O povo, com a sua infinita sabedoria, gosta de dizer que há males que vêm por bem. Embora eu tenha uma confiança cega na sabedoria popular, tenho tido muita dificuldade em perceber o que é que veio por bem com a maldade da pandemia. Ao ler o nosso JN de ontem julgo finalmente ter encontrado uma luzinha ao fundo desse túnel pelo que decidi partilhar tal descoberta com os estimados leitores.
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Como tenho a honra e o prazer de escrever estas crónicas semanais no JN há já mais de dez anos, não consigo precisar há quanto tempo aqui dei conta da minha estranheza pelo facto de não existirem mais esplanadas nos restaurantes e cafés do Porto e zonas limítrofes. Lembro-me que escrevi essa crónica no regresso de uma viagem profissional a Paris e expliquei essa minha estranheza por ter acabado nessa altura de ver uma cidade em pleno inverno com chuva e muito frio, ter as suas principais ruas animadas com esplanadas repletas de parisienses e turistas. A verdade é que desde a data dessa crónica até aos dias de hoje a situação evoluiu muito e o número de cafés e restaurantes com esplanadas disponíveis subiu muitíssimo, nomeadamente nos meses de verão. Lembro-me até de noutra crónica já mais recente ter elogiado o acordo entre a Câmara de Matosinhos e muitos dos seus restaurantes de Matosinhos Sul que passaram a ter equipamentos de esplanada preparados para resistir às intempéries dos dias mais invernosos.
É aqui que eu convoco para esta crónica o mal da covid que produziu desde março uma inflação gigante de esplanadas e "esplanadazinhas" a que se agarraram muitos dos comerciantes, aproveitando as facilidades concedidas pelas autoridades municipais. Na edição de ontem o JN dava conta do pedido destes comerciantes para manter as esplanadas a funcionar no inverno, solicitando o alargamento das isenções de taxas. Por todas as razões e mais algumas e na minha ótica de utilizador, gostava de juntar aqui a minha voz a este pedido dos nossos comerciantes. Com a pandemia sem fim anunciado e até aceitando que os espaços fechados não são favoráveis à eliminação do bicho, bem pelo contrário, tenho a certeza de que este pedido dos comerciantes será convenientemente atendido por quem de direito. Gostaria entretanto de aproveitar esta oportunidades para também eu formular um pedido, agora aos comerciantes: quando esta pandemia acabar para bem de todos, não acabe também o vosso desejo de manter abertas todo o ano as esplanadas que agora conquistaram. Mesmo que para isso, nessa nova primavera, tenham que pagar as taxas devidas.
*Empresário