Corpo do artigo
Não conheci Francisco Lucas Pires, mas de todos os príncipes da República é o meu preferido. No dia de hoje, em que Guterres recebe nas Nações Unidas homens e mulheres contaminados de sobrevivência e prisioneiros do presente, relembro uma pessoa luminosa que acreditava que se devia lutar pelas ideias, combater pela tolerância, pelos valores democratas-cristãos, por um liberalismo que pouco ou nada tem a ver com o de hoje. Francisco foi um dos fundadores do CDS. Um europeísta convicto, o melhor de todos os ministros da Cultura em democracia, um homem essencialmente culto, inteligente, boa pessoa. Uma pessoa maravilhosa e livre. Que acreditava em Deus, mas também nos homens, que acreditava em valores não libertários, mas que abraçava os libertários após uma boa discussão. Um intelectual com coragem. Em Coimbra, foi o único professor a ir dar aulas no dia 25 de Abril, sem medo e preparado para tudo. E foi pai de quatro. O Jacinto e o Simão, escritores e enredados nas palavras. Mais o Martinho e o Rafael, juristas, estudiosos, competentes. Todos boas pessoas. Sorriem para quem passa, tratam bem os outros, sem sobrancerias ou desajustadas arrogâncias. Hoje, dia em que em Nova Iorque se discute a mortandade em Gaza, relembro que houve e há homens assim. Lucas Pires morreu-nos cedo, mas deixou-nos a sua marca de água. Os seus filhos. A ideia de que, aconteça o que acontecer, à direita e à esquerda, haverá sempre quem seja capaz de ganhar às trevas do pensamento único.