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Vivi toda a juventude num bairro próximo de gangsters, traficantes e ladrões. A malta do lisboeta Casal Ventoso tinha a faca nos dentes. Penso nesses tempos ao ler sobre o julgamento do Macaco e dos seus amigos dragões. Leio e vejo-os no tribunal, mais os advogados e os relatos da célebre assembleia do F.C. Porto onde sócios foram impedidos de exercer a sua liberdade. Leio também acerca dos lucros da malta, dos bilhetes vendidos, das viagens e das vidas boas com casas impecáveis a cheirar ao melhor bafo burguês da Foz. Quem me dera. Macaco é o único que está dentro, quatro anos engavetado por crimes que, na minha incurável miopia, são de menos para tanta penitência. Não contente com isso, o MP recorreu agora da decisão do tribunal. Quer que o criminoso das claques não fique apenas com os quatro anos, mas cumpra nove. Não me entenda mal. Se me dissessem que Madureira era sério eu ria-me à gargalhada. Aliás, se eu o escrevesse até o homem se sentiria ofendido. Não se chega a líder incontestável de um grupo de ninjas musculados por se dar uns calduços a benfiquistas ou por se palmilhar camones nos Aliados. O problema não é duvidarmos que é perigoso, mas o de estar preso por ter dado uns gritos e uns apertões. Não é uma crítica à justiça, mas um elogio ao respeito que mostraram pela memória de Al Capone que só foi apanhado por ter fugido ao pagamento de impostos. Por isso, caro Macaco, não te preocupes. Terem-se lembrado do grande Scarface para te entalar é uma medalha para a vida.