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A incerteza é, decididamente, o pior que nos pode acontecer, principalmente quando não sabemos o que o novo presidente dos Estados Unidos poderá fazer à Europa. Donald Trump, devido à volatilidade do seu caráter e às muitas ambiguidades que deixou na sua campanha, prenuncia decisões que colocarão os europeus em maus lençóis. E o Reino Unido especialmente, que terá de escolher entre aliar-se a Trump, por o Estados Unidos ser o amigo de sempre, ou à União Europeia, onde os laços políticos e económicos ainda são fortes.
E logo a começar pela guerra às portas da Europa. Tudo indica que a próxima Administração não estará disposta a manter o mesmo apoio à Ucrânia que Joe Biden teve. Todos ouvimos Trump afirmar que vai promover um acordo de paz rápido. Mas o único acordo que Putin conhece é o da capitulação da Ucrânia. Pelo que é urgente que os países europeus comecem a caminhar por si próprios e a reforçar o seu apoio a Kiev, independente do que Trump possa decidir. Mais vale só do que mal acompanhado. É que, com um corte da ajuda de Washington, as possibilidades de resistência da Ucrânia são muito limitadas. Uma vitória de Putin seria a confirmação de que a força bruta atinge objetivos criminosos e que as democracias ocidentais não estão dispostas a fazer tudo que é necessário. Tanto mais que o compromisso de Trump com a NATO é, no mínimo, duvidoso.
Mas também existem grandes perigos a nível económico, até porque Trump alertou claramente que é sua vontade impor tarifas sobre os produtos europeus. Isto numa altura em que a Europa está em perigosas disputas comerciais com a China e a Alemanha sofre uma crise política e estagnação económica. É até um paradoxo que, sendo Trump um adepto do capitalismo selvagem e do liberalismo, seja o primeiro a tomar medidas protecionistas. Só a realidade o pode demover. Ou seja, taxar os produtos que os EUA importam tem o outro lado da moeda: de desencadear mais inflação. E isso é o que nenhum americano quer.