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O tempo era de festa em Marrocos, de esperança partilhada com croatas, franceses e argentinos, concorrentes instalados nas casas das meias-finais, e de discussão pegada em Portugal, que tinha sido eliminado pela seleção africana nos quartos de final do Mundial do Catar. Estávamos em dezembro de 2022. Um ano e meio depois, a França mandou-nos para casa, num jogo em que a equipa de Roberto Martínez foi superior, mas a controvérsia continua, tendência inerente e indispensável ao futebol.
Dando sequência ao exercício de procurar estabelecer um paralelo entre os dois momentos, recordemos que Portugal saiu do Catar como uma família onde todos ralham e ninguém tem razão. Desanuviemos o ambiente: são assim as famílias funcionais, no fim, persiste o amor e a união nas grandes causas. No desporto é um bocadinho diferente e, por isso, Fernando Santos, o selecionador de então, foi substituído, depois de durante o Mundial ter tido a coragem de substituir Cristiano Ronaldo e, posteriormente, de o deixar no banco. Ronaldo não gostou e nenhum golpe de comunicação mal-amanhado conseguiu esconder o descontentamento.
Correndo o risco de deixar muitos estudiosos do futebol arrepiados, acho que o selecionador português encontrou o caminho certo para extrair o melhor do nosso talentoso grupo de jogadores. O bom trabalho viu-se no dia em que Portugal teve de defrontar uma seleção de valor idêntico, também candidata a grandes feitos. Contra as previsões catastrofistas, fomos superiores aos franceses, mandámos no jogo - coisa que não tínhamos conseguido, por exemplo, na final do Euro 2016 - podíamos ter ganho antes e no prolongamento, mas não aproveitámos as oportunidades. Nada mais injusto do que atribuirmos a responsabilidade pela eliminação a João Félix, que acertou no poste, no desempate por grandes penalidades. Pode acontecer a qualquer um. Dias antes, tinha acontecido a Ronaldo, por mérito absoluto do esloveno Oblak, porque esse foi o melhor remate que o capitão fez durante o Euro - forte e a fugir do guarda-redes, sem levar a direção da bancada. Muitos portugueses choraram as lágrimas de CR7. Alguns farão parte daquele país dentro do país que considera crime lesa-pátria criticar Ronaldo e diversão apontar o dedo a outros jogadores.
Fechado este primeiro ciclo de Martínez, parece-me óbvio que o espanhol encontrou o melhor modelo para Portugal mandar em todos os jogos, mesmo frente à poderosa França. Falta-lhe apenas encontrar o jogador ideal para jogar na posição de Ronaldo; como não o deixou no banco ou substituiu quando a equipa precisava, terá tempo para encontrá-lo. O tempo que Fernando Santos não teve.