À ciência o que é da ciência, à política o que é da política. Nem mais, nem menos.
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Gostaria de começar por salientar que esta formulação não diz menos dos médicos como não diz mais dos políticos. Já agora, onde se lê médicos, daqui para a frente deve ler-se também matemáticos.
Sinceramente, não sou capaz de estabelecer uma classificação ou uma prioridade entre estas duas atividades porque, numa democracia como a nossa, são ambas igualmente necessárias. Lá por vivermos tempos em que está na moda dizer mal dos políticos, de todos os políticos, e bem dos médicos, de todos os médicos, isso não muda a minha opinião, porque não sou de modas.
(Ou melhor, sou da moda verdadeira, autêntica: a que está a partir de hoje disponível no online.modtissimo.com, naquela que é a primeira e, espera-se, a última edição desta feira têxtil em formato exclusivamente digital).
Findo este parêntesis, volto ao tema para recordar que, se ninguém espera que os políticos comecem a dar consultas ou a operar doentes, também se agradece que os médicos não se distraiam das suas funções para se dedicarem a tratar a política de bisturi em riste e estetoscópio ao pescoço.
Fui um espectador atento da última reunião no Infarmed e de muitas das aparições de médicos de várias especialidades que se seguiram nas televisões. Ao final do dia, percebi perfeitamente o inédito silêncio do presidente e do primeiro-ministro à saída de mais este conclave médico-político. Também eu fiquei sem saber o que pensar. Cada cabeça, sua sentença, cada sentença, sua confusão.
Os médicos que só sabem de medicina nem de medicina sabem. Se o prof. Abel Salazar fosse vivo, talvez o víssemos também afirmar que os médicos que acham que sabem de política nem de medicina sabem. Feito o seu apreciado trabalho científico, os médicos devem deixar as decisões políticas para... os políticos.
É saudável que as decisões políticas sobre matérias destas tenham a possibilidade de se fundar em informação disponibilizada por quem percebe da poda. Se a arte do desconfinamento fosse um ato médico, não seriam os políticos a tratar dele. Como é uma matéria essencialmente política, embora lide com a saúde como lida com a economia, que respeita tanto a doentes como a quem tem saúde para dar e vender, não podem ser os médicos a gerir o assunto.
Diria até que a maior ajuda que os médicos e os matemáticos podem dar ao país é respeitarem o Princípio de Peter, não deixando que nenhuma promoção os leve até ao seu nível de incompetência.
*Empresário