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Luís Montenegro sabe bem que o Programa do Governo será a primeira prova de fogo do curto percurso como primeiro-ministro. Não tanto pelo documento em si, que sem surpresa se enquadra nas promessas da AD, mas pelo debate que hoje arranca na Assembleia da República, porque mais importante do que esgrimir as linhas orientadoras é mostrar capacidade para executar políticas que transformem a contestação - que há um par de meses andava na rua -, em vias de concretização, a curto prazo, das reivindicações de classes tão importantes para o país como os profissionais da saúde, da educação, das forças de segurança, dos tribunais e por aí adiante. Ninguém duvida que o Programa de Governo avançará - as anunciadas rejeições de comunistas e bloquistas não causarão incómodo -, resta saber se Luís Montenegro conseguirá chegar ao fim da discussão com o capital de confiança reforçado. A preocupação de acomodar seis dezenas de medidas pescadas à linha nos programas da Oposição é insuficiente como chave para abrir a porta de comunicação com os outros partidos. O Governo sabe que tem de negociar, não negociou, mas quis mascarar a agenda com ares de profunda bondade. Os próximos tempos permitirão perceber se estamos perante a construção de pontes que se traduzam na efetiva governabilidade do país ou simples operações de cosmética. Que pelas reações de ontem apenas agradaram, mesmo sem grande euforia, à ala populista do Parlamento.
A missão, claro está, não é simples. A responsabilidade de governar está nas mãos de Luís Montenegro, mas a aritmética parlamentar acrescenta obrigações aos outros partidos. E os equilíbrios são tão difíceis como necessários. Porque, se não acontecerem, o país paralisará a caminho de novas eleições, congelando, uma vez mais, as ambições dos eleitores.