A revolução digital está a deixar muita gente para trás. À crise económica global provocada pela pandemia juntou-se uma transição digital acelerada, também ela, pela emergência sanitária.
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Temos, pois, a tempestade perfeita para quem possui baixas qualificações e escassas (ou nenhumas) competências digitais.
Em Portugal, apenas 26% dos trabalhadores têm competências digitais na ótica do utilizador e só 12% dispõem de competências avançadas, segundo o Índice de Digitalização da Economia e da Sociedade 2020. Por conseguinte, a transição digital em curso vai certamente acentuar os fenómenos de exclusão laboral e social no nosso país.
Importa atalhar este problema investindo na formação e reconversão profissional de adultos, bem como nos cursos de especialização tecnológica e nos cursos técnicos superiores profissionais.
Mas se é verdade que não podemos deixar ninguém para trás, também me parece evidente a necessidade de fazer avançar quem vai na dianteira. Traçando uma analogia com o atletismo, é preciso "acelerar o pelotão da frente", para que este corra mais rápido e chegue mais longe.
Isto significa que devemos, não só continuar a massificar o Ensino Superior, como reforçar substantivamente o investimento na formação pós-graduada e ao longo da vida. É fundamental criar talento altamente qualificado, que seja capaz de prover a nossa economia com o conhecimento especializado, a intensidade tecnológica e a capacidade de inovação de que esta tanto carece.
É importante que os decisores políticos compreendam que, para além das pessoas, também o país não pode ficar para trás, mantendo níveis de crescimento anémicos por falta de potencial humano e, consequentemente, de competitividade económica.
Reitor da Universidade do Porto