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A política do alcatrão mudou Portugal. Passámos a ser um país com boas estradas, que depressa se transformaram em vias abertas à debandada do Interior. Há meia dúzia de dias, conversava com um autarca sobre a necessidade de um eixo estruturante que ligasse o "seu" oásis das montanhas do Douro a uma auto-estrada. O meu interlocutor desmontou logo a ideia. Provavelmente, teria o efeito oposto e, em vez de trazer gente, serviria como porta de saída aos que restam. O problema, porém, não está nas vias de comunicação, todas essenciais - excepto aquelas onde passa um carro a cada 10 minutos - revela-se, antes, na incapacidade de desenvolver as vilas e cidades do interior, de as tornar mais sedutoras para os jovens e solidárias para os velhos. Os mentores da revolução do alcatrão esqueceram-se do essencial.
Volvidos 30 anos, o país está mais desigual, excessivamente concentrado na costa e a força do Interior quase se resume aos cogumelos do turismo rural. As exceções, como a região duriense, são poucas. Continuam a faltar serviços públicos eficazes e incentivos à medida dos empreendedores - sejam singulares ou empresas - capazes de gerar emprego e valor. Nunca será fácil fixar populações num quase deserto de empregabilidade.
É por isso que, neste país desregulado e centralizado, cada passo rumo à Descentralização devia ser considerado uma vitória. Só não é assim porque o Governo resolveu - e aqui não há novidade - enganar-se nas contas, o que conduziu a um confronto com as autarquias, evidentemente lesadas na proposta inicial para a Educação. Que tenha servido de lição. Que não se volte a perder tempo. O acordo entre a Associação Nacional de Municípios e o Poder Central é um passo importante, com a bênção do maior partido da Oposição, o PSD, esse mesmo, que recusa o referendo à Regionalização.
*Diretor-adjunto