Ao discursar no Parlamento - de onde se escapa como o Diabo da cruz amparado por Rui Rio, líder de uma ala da Assembleia da República que cada vez menos merece ser classificada como Oposição -, António Costa defendeu a necessidade de encarar a crise provocada pela pandemia como uma oportunidade.
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De acordo. As grandes obras constroem-se em cima de cinzas, mas este admirável novo quadro de possibilidades parece ter saído de uma fábula que só vai à cena no teatro político de Lisboa.
No país real, a 300 quilómetros de distância, autarcas e outras personalidades do Norte discutiam, na Conferência do "Jornal de Notícias", a conjuntura dramática que enfrentamos e a necessidade de agilizar o acesso aos fundos comunitários. O pacote de resgate europeu, que injetará na economia portuguesa 58 mil milhões de euros, foi festejado como quando um pobre recebe uma herança, mas o grande prémio não será entregue enquanto os tecidos empresarial e autárquico continuarem a esbarrar em sucessivos blocos negros burocráticos que impedem o acesso aos fundos, quase sempre distribuídos de forma assimétrica, quando o que país precisa mesmo é de encontrar a saída do labirinto centralista onde vive confinado há décadas.
Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara de Gaia, destacou que viver agarrado às queixas sobre o centralismo não chega, mesmo sendo uma evidência que este funciona como travão do desenvolvimento, e reforçou a necessidade de uma estratégia supramunicipal. É imperioso, de facto. E esta voz comum deve convergir no sentido de erguer-se como plataforma reivindicativa, exigente e implacável junto do poder central. Porque, como disse Rui Moreira, autarca do Porto, "continuamos muito longe do poder, é a nossa verdade". A realidade exige, portanto, uma Região Norte unida e empreendedora, porque só assim será possível impedir que o dinheiro vá parar "aos suspeitos do costume".
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