Também me sucede, como ao poeta, perscrutar o vento que passa, atento às notícias do meu país.
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Leio, pois, os jornais, vejo os noticiários e escuto a telefonia - e mais e mais se entranha em mim a desconfortável sensação de que vivemos tempos singulares no espaço mediático nacional. Nele borbulha inclemente a espuma dos dias e se agita a fantasmagoria da rama ao sabor de qualquer brisa; exacerbam-se irreais indignações e sucedem-se, rápidos como nortadas, os mais irrelevantes factoides pseudopolíticos, os quais monopolizam as manchetes e as aberturas dos telejornais, merecendo toda a atenção (e comoção) jornalística até que outra qualquer escandalosa insignificância imediatamente a substitua no volúvel critério dos comentadores da república.
Não me cabendo determinar que quota-parte de responsabilidade há de ser assacada aos órgãos de Comunicação Social e aos agentes políticos, creio, ainda assim, que o quadro atual contribui decisivamente para o descrédito de uns e de outros. Decerto mais grave, a intempestiva efemeridade dos noticiários mina a participação cívica, afasta os melhores da causa pública, degrada a sã convivência social e deprecia os reais problemas do país e os seus desígnios mais urgentes, que se não veem conveniente e seriamente discutidos por falta de espaço e de oportunidade.
O tempo que vivemos é, porém, demasiado desafiante para que o desperdicemos com o acessório das querelas mesquinhas e vãs. Impõe-se que, do cidadão comum ao mais alto magistrado da república, nos foquemos no que é essencial e estratégico, no que faz a diferença na vida dos cidadãos (o combate à inflação, o crescimento económico, o galope dos juros, a falta de habitação e etc.) e naquilo que será o nosso futuro enquanto comunidade local e global, naturalmente sujeita a contingências internacionais, mas que seja também capaz de aproveitar toda e qualquer oportunidade de progresso material que se nos depare. É necessário e urgente, por isso, que todos, instituições, empresas, políticos, comentadores e jornalistas, saibamos estar à altura da responsabilidade que o momento exige.
Reitor da Universidade do Porto