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Datam do Paleolítico Superior, eram conhecidas há muito pelos pastores e populações locais, foram identificadas pelo arqueólogo Nelson Rabanda em 1991 e o anúncio público ocorreu três anos mais tarde. As gravuras rupestres que há milénios adornam o Vale do Côa estiveram em risco de ficar submergidas com a construção de uma barragem. Foram salvas numa batalha, em versão moderna David contra Golias, entre os que defendiam um património cuja importância ainda estava subavaliada e a todo-poderosa EDP. Os jovens de Foz Côa saíram à rua, o refrão “as gravuras não sabem nadar” chegou às televisões e a causa viralizou a nível internacional muito antes da era das redes sociais. A pressão social foi tal que António Guterres reverteu a decisão de construir a central elétrica. E o resto é história.
Seis jovens portugueses, dos 11 aos 24 anos, levaram à justiça, na semana passada, um processo inédito em que acusam 32 países de violação de Direitos Humanos por não combaterem as alterações climáticas. Uma ação sem precedentes que pode mudar o futuro da Europa na luta contra a crise climática, já que, se o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos aceitar o caso, pode criar jurisprudência que obrigue os estados a tomarem medidas efetivas contra o aquecimento global e a destruição do planeta.
Também na semana passada, duas iniciativas, igualmente protagonizadas por jovens portugueses, captaram a atenção mediática - uma visou o ministro do Ambiente, atacado com tinta verde, e outra tingiu de vermelho as paredes da FIL, onde decorria um evento da aviação. Este tipo de estratégia mais disruptiva tem dois efeitos, descritos como o dilema do ativista: por um lado, são essenciais para conquistar espaço na agenda pública e obrigar à tomada de posição coletiva, mas também podem reduzir o apoio à causa, por mais válida que seja.
Indiscutível é que a mudança escreve-se amiúde de controvérsia, perturbação da ordem vigente, desconforto, confronto e revolta - geralmente de uma minoria. Não raras vezes são os jovens a provocá-la contra uma maioria apática, situacionista e desmotivada para mudar o status quo. E um dos melhores exemplos, em Portugal, foi a luta de um punhado de miúdos que culminou na preservação da arte rupestre do Côa.