Saberemos hoje em que condições poderá ser retomada a liga principal de futebol, uma vez que o regresso da LigaPro é cada vez mais uma miragem, por falta de condições para preencher os pressupostos de uma logística complicadíssima devido à pandemia, mas também porque, se dúvidas houvesse, estamos esclarecidos quanto ao nível de preocupação governamental com os clubes menos representativos.
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A reunião de terça-feira entre o Governo e alguns dirigentes evidenciou que, também para os políticos, há F. C. Porto, Benfica, Sporting e o resto alinha-se numa paisagem de adversários tratados como animadores da festa alheia. Não houve explicação oficial para a ideia de chamar à mesa da discussão apenas três emblemas, com a agravante de o presidente da Liga de Clubes, que a todos representa, ter sido convocado, em cima da hora, pela Federação Portuguesa de Futebol, emendando um aparente lapso do gabinete de António Costa.
Um dos problemas do nosso futebol reside, precisamente, no protagonismo excessivo de Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira, Frederico Varandas e respetivos clubes, sempre em proveito próprio - o que até é natural, atendendo a que, no desporto profissional, o objetivo é ganhar -, mas é incompreensível ver um Governo tão preocupado com as minorias alimentar este cenário de desigualdade e concentração de agentes decisores. Estando o líder da Liga na reunião, por que razão se sentaram à mesa os três grandes e não esteve presente o Sindicato dos Jogadores ou a APAF, que representa os árbitros? Ou outros clubes com maior projeção desportiva nas últimas épocas do que, por exemplo, o Sporting? Aconteceu, se calhar, porque a base social dos três grandes absorve 90% dos portugueses com direito a voto.
De qualquer maneira, a reunião de pouco serviu - ou apenas alimentou a ideia peregrina de que estes tempos difíceis e a bênção de António Costa uniram F. C. Porto, Benfica e Sporting. Mas não é verdade. Não uniram, nem vão unir. Se a competição começar - como tem dito, e bem, o presidente da FPF, Fernando Gomes, essa decisão pertence, sobretudo, às autoridades da saúde - o encontro foi mais um desfile do centralismo da bola, de braço dado com uma falsa harmonia que será desfeita assim que a competição arrancar. Já o centralismo, com opções como esta, tem tudo para continuar a esmagar o futebol.
Editor-executivo