As notícias de que o certificado digital covid da União Europeia seria a cura para todos males do turismo foram manifestamente exageradas.
Corpo do artigo
O otimismo de António Costa indicava o contrário, mas se há coisa que podemos constatar é que este documento ainda está muito verde. "O certificado da UE permitirá aos cidadãos usufruir novamente de um dos direitos da UE mais tangíveis e mais apreciados - o direito à livre circulação", proclamava aos quatro cantos do Velho Continente o primeiro-ministro português, dando o assunto como fechado. "Viagem!", exclamou António Costa, a 14 de junho, convidando os europeus a retomar os níveis de mobilidade dos anos pré-pandemia. Lamentavelmente, na perspetiva de primeiro-ministro, do turismo e de quem gosta e pode viajar, quando nos dedicamos às letras pequeninas desta espécie de passaporte, lemos o seguinte: "Este certificado não é um documento de viagem".
A contradição só pode surpreender os mais desatentos. Como quase todas as boas ideias, o certificado choca de frente com uma União Europeia bipolar. Na hora de aprovação em Bruxelas, os países andam todos para o mesmo lado; quando se trata de transpor para a legislação interna, uns vão para a esquerda, outros para a direita e ficamos a torcer para que nenhum recue. Veremos, daqui até ao dia 1 de julho, se esta boa ideia não dividirá a cama com outra, a StayAway Covid, também por cá apresentada como fundamental no combate à pandemia.
Certo, certo, é que o certificado digital já nasce torto, uma vez que pode ser emitido logo após a toma da primeira dose de uma vacina. Segundo a Ciência, ninguém estará imunizado com meia vacina, pelo que devia ter existido outro cuidado, sob pena de uma ferramenta de esperança correr o risco de se transformar, rapidamente, em mais uma oportunidade perdida.
Chefe de redação