As grandes crises geram sempre convulsões à medida, acordando as pessoas para injustiças que, se os tempos fossem de bonança, passariam em claro.
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Não existe nada de bom na atual conjuntura de pandemia. Se pensarmos bem, até as histórias heroicas com que nos vamos deparando seriam dispensáveis. Mas não deixamos de viver num período de oportunidades. Umas menos recomendáveis, outras nem tanto, sabemos todos.
Mas se é tempo de pensar em fazer mais e melhor, é hora de entrar na onda e tornar o país mais exigente no que concerne aos crimes que mexem com dinheiros públicos. Porque a sensação de a fatura cair sempre nas mesmas bolsas vazias, enquanto elites continuam a passear-se nos iates da impunidade, é o pior que pode acontecer numa altura destas.
A decisão de alargar a proteção aos denunciantes de crimes de corrupção - nesta fase, como está plasmado na capa da edição de hoje do Jornal de Notícias, ainda sob a forma de conclusão de um grupo de trabalho - tem de avançar com celeridade.
Para grandes males, grandes remédios. A corrupção não é o único problema do país, mas torna-se impossível, num previsível quadro de exigência máxima, a curto prazo, para os contribuintes, pactuar com ajustes diretos inquinados, desvios de fundos comunitários e fugas mirabolantes aos impostos. Tudo crimes com os quais somos confrontados diariamente.
E ao falarmos de denunciantes, não podemos esquecer o caso de Rui Pinto, cuja "carteira" de documentos permitiu abrir uma série de investigações importantes, do futebol à alta finança.
Se é de estratégia que estamos a falar, seria também bom passar rapidamente a letra de lei as diretivas comunitárias sobre a forma como devem ser tratados os "whistleblowers", visto que não me parece que a melhor maneira de incentivar a denúncia de crimes deste calibre seja manter presos os denunciantes, enquanto os potenciais criminosos gozam o sol de verão em paraísos. Se calhar, até em paraísos fiscais.
*Editor-executivo