Se há evidência que a pandemia sublinha é que os pobres sofrem sempre mais do que os ricos quando o equilíbrio social e económico do planeta é afetado.
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Os últimos dois anos foram muito difíceis para todos, mas, vejam bem, a fortuna dos 20 mais abastados do Mundo registou uma subida de 30% em 2021, enquanto o número de pessoas a viver em situação de pobreza extrema aumentou pela primeira vez em 20 anos, segundo dados das Nações Unidas.
Traduzido em lugar-comum, sempre que a maré não está de feição, "quem sofre é o mexilhão". Provavelmente, todos sabíamos que este seria o balanço de perdas e ganhos, independentemente do agente provocador do desequilíbrio, neste caso, um vírus. Mas será que estamos perante uma inevitabilidade? Talvez não. A maior parte dos povos tem o destino nas mãos, pelo que vale a pena centrar a agulha na realidade portuguesa - mesmo sabendo que, sendo grave, está a léguas do que se passa em países onde a proteção aos desfavorecidos é escassa ou nula.
Os portugueses têm uma parte do destino nas mãos. No momento mais decisivo em democracia, serão chamados, no final deste mês, a escolher os seus representantes para a Assembleia da República. E desse escrutínio resultará um novo Governo. Depois da irresponsabilidade - com culpas partilhadas - de nem um orçamento numa conjuntura tão decisiva conseguirem aprovar, importa saber com que projetos pretendem os partidos inverter esta tendência de serem sempre os mais frágeis a pagar sucessivas crises. Se tiverem coragem, se perceberem que é possível vencer eleições com a verdade, talvez os eleitores se mobilizem por uma ideia de governação, suportada num ou mais partidos, capaz de devolver a esperança a quem há muito a perdeu, encarando o ato de votar como uma perda de tempo ou deixando-se seduzir por ondas extremistas que podem, no limite, colocar em causa a própria democracia.
*Chefe de Redação