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Paris encerrou no domingo os Jogos Olímpicos com um sucesso que quase ninguém imaginaria antes do seu início. E não foi só um sucesso desportivo. Deu exemplos de que, quando o ser humano quer, é possível conviver com a diversidade. Lembremos que a França chegou aos Jogos Olímpicos após meses de conflitos políticos e sociais em que a extrema-direita esteve mais perto do que nunca do poder. O que se oferece desta trégua olímpica é a melhor imagem da França universal e mestiça, um reflexo de como realmente é o país e não como o nacionalismo populista o imagina. O entusiasmo nos estádios e nas variadas competições trouxe uma injeção de otimismo ao país.
Foi na capital francesa que o sueco Mondo Duplantis derrubou o recorde mundial de salto à vara, ou do tenista Novak Djokovic, que aos 37 anos conquistou o único título que não tinha. Entre as muitas imagens emocionantes que Paris deixa para a história, destacam-se o simbolismo das norte-americanas Simone Biles e Jordan Chiles a curvarem-se perante a brasileira Rebeca Andrade. Mas nem tudo foi um mar de rosas. O ódio amplificado pelas redes esteve inevitavelmente presente quando a pugilista argelina Imane Khelif, medalha de ouro na sua categoria, foi humilhada pelo discurso transfóbico. Ou a medalha de ouro na maratona feminina para os Países Baixos, conquistada por Sifan Hassan, uma refugiada nascida na Etiópia, quando o Governo de extrema-direita promete aplicar um regime de asilo mais rigoroso.
Portugal, com a sua melhor prestação de sempre - uma medalha de ouro, duas de prata e uma de bronze - continua, no entanto, a desiludir. E não é culpa dos atletas. O que eles fazem são verdadeiros milagres com as poucas condições e sem política desportiva dos sucessivos governos. Infelizmente, em 2028, em Los Angeles, lá estaremos para dizer exatamente o mesmo sobre a participação portuguesa.