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As caravelas de António Costa estão outra vez a navegar em mar picado, no embalo da polémica de uma privatização que já chegou ao Ministério Público. A TAP, pois claro, está a causar turbulência no seio de mais um Governo, com o ministro Miguel Pinto Luz amparado por Luís Montenegro. Como as caravelas, também a história da TAP e do próprio país dá voltas para atracar no mesmo sítio. O negócio chancelado pelo atual ministro das Infraestruturas e Habitação, já depois de o Governo liderado por Pedro Passos Coelho ter recebido a extrema-unção, é conhecido. Pouco do que se está a discutir neste momento é novo, devendo ser enquadrado num contexto pré-Orçamento de Estado que faz subir o volume da retórica política. Luís Montenegro conhecia bem o processo quando escolheu Miguel Pinto Luz, pelo que nunca o deixará cair. No fundo, ao acolhê-lo, ilibou-o. Foi um perdão antecipado. Se não ficámos surpreendidos quando foi conhecida a composição do Governo, talvez não faça assim tanto sentido ficarmos agora. Até porque vivemos no país dos perdões. Há-os para todos os gostos, uns mais repugnantes do que outros, difíceis de entender, como aquele que conhecemos ontem, que amnistia cinco elementos das forças de segurança visados em processos disciplinares por difusão mensagens de ódio e discriminação nas redes sociais. Escaparam à justiça dos homens, salvos pela Jornada Mundial da Juventude, o que por si só deveria obrigar a repensar o conceito de amnistia ou, pelo menos, os crimes que aceitamos ver abrangidos. Mas há esperança neste Portugal do perdão. O presidente do Supremo Tribunal de Justiça, em entrevista à rádio Observador, mostrou-se favorável a uma revisão da lei no sentido de não chegarem tantos casos àquele segundo tribunal de recurso. Eis uma boa ideia para punir os criminosos mais cedo. Os que têm dinheiro para recorrer até ao Supremo, bem entendido.