Os professores estão em luta desde o início do ano letivo e ameaçam continuar em 2023/2024. Uma longa guerra travada entre Governo e sindicatos que já obrigou os tribunais a decretar serviços mínimos para garantir refeições escolares e agora a realização dos exames finais.
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A mais recente batalha registou-se este fim de semana, com o Dia de Portugal como pano de fundo, e pode significar um volte-face neste conflito. E se António Costa foi o alvo, poderá ser o Governo a capitalizar um erro estratégico dos professores, principalmente se teimarem numa postura autista face à opinião pública.
Já se tornou rotina, onde estão ministros e câmaras de televisão os docentes protestam, numa demonstração de força e eficácia da máquina sindical da que é provavelmente a classe mais organizada e reivindicativa do país. O 10 de Junho não foi exceção. No Peso da Régua confrontaram, uma vez mais, o primeiro-ministro com o seu descontentamento. E aconteceu o que é habitual: ambas as partes dispararam argumentos surdos, sem qualquer intenção de dialogar. Desta vez, porém, António Costa perdeu a sua proverbial imperturbalidade. Motivo: uns cartazes em que aparece caricaturado com nariz de porco e lápis espetados nos olhos. Visivelmente irritado, acabou por deixar escapar a palavra "racistas" referindo-se às imagens.
A Fenprof, a organização mais representativa da classe, já se demarcou do grupo que usou "como armas o insulto e o populismo". A verdade, porém, é que os cartazes não são novidade: em Braga, aquando do Conselho de Ministros de 3 de maio, caricaturas semelhantes foram exibidas pelos professores. A novidade é o mediatismo e a censura pública do episódio. A par dos já famosos números - seis anos, seis meses e 23 dias (o tempo de congelamento da carreira) - respeito é a palavra de ordem que mais se ouve nos protestos. E os professores têm motivos para exigir respeito pela profissão e pela sua carreira. Mas os fins não podem justificar todos os meios, até porque o que está em causa é também um direito constitucionalmente consagrado - o acesso à educação - depois de dois anos marcados pela pandemia, desastrosos principalmente para os alunos mais vulneráveis. Nesta guerra em que os alunos, e a estabilidade das famílias, são danos laterais aparentemente desprezados por ambas as partes, importa não perder de vista que o respeito é sempre uma via com dois sentidos.
*Editora-executiva-adjunta