Corpo do artigo
Os perigos de uma crise política têm sido discutidos e continuarão no alinhamento do debate público enquanto não estiver defeito o impasse em relação ao Orçamento do Estado. Numa lógica de tensão crescente, vale tudo. Até o argumento, falso, de que se o documento não for viabilizado estará em causa a execução do PRR, sem dúvida essencial para o desenvolvimento de uma parte do país. Portugal é assimétrico e a distribuição do pacote de fundos europeus também. Tomando como exemplo as duas maiores áreas urbanas, o concelho de Lisboa recebe o triplo do Porto. E o problema agrava-se quando fazemos as contas à dimensão da fatia canalizada para os municípios do Interior, territórios que os políticos visitam, como aconteceu na semana passada, quando floresta e habitações são engolidas pelo fogo. Receio que, por causa da tendência centralista e das alterações climáticas, as viagens solidárias se sucedam, porque incêndios desta dimensão também acontecem devido à fuga das populações para o litoral, que, inevitavelmente, conduzem ao despovoamento. A coesão territorial devia ser uma prioridade. Num país tão pequeno, a disfunção centralista é ainda mais difícil de entender, como uma doença cuja cura é conhecida por todos sem que alguém ouse aplicar o medicamento certo. Abundam exemplos. Quem não se lembra da discussão, do problema, do drama provocado pela simples ideia de o Infarmed ser desviado de Lisboa para o Porto? Já lá vão quase sete anos desde o terramoto que deixou tudo na mesma. Mas, não fosse o JN noticiar, e teria sido sem se dar conta que a sede do Património Cultural, I.P. se transferiu para a capital, no mais estrondoso silêncio centralista, audível na ausência de explicações por parte do Ministério da Cultura.