1. O valor do papel. Não é possível esquecer aquela magnífica rábula dos Gato Fedorento sobre o papel: onde está o papel? Qual papel? O papel! Qual papel? O papel... e por aí adiante.
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Apesar dos ventos atuais que reduzem o papel quase a pó, que fazem do papel o parente pobre e cada vez mais afastado dos jornais, sou daqueles que resistem, dos que continuam a dizer não em coro com o poeta Alegre que nos ensinou que há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não. Costumo dar o exemplo das feiras profissionais. Quando a Internet revolucionou as nossas formas de comunicação houve logo alguns precipitados que previram o fim das feiras físicas e nos dias de hoje, algumas décadas depois, a verdade é que a maioria das feiras foi capaz de se reinventar e continuar a ocupar um espaço super-relevante no mundo do comércio internacional. Acredito que com a imprensa escrita não será muito diferente. As vendas em banca diminuem, até porque as bancas também estão em perda, mas julgo que se engana muito quem pensa que os jornais são uma espécie em vias de rápida extinção. Lembrei-me disto nesta semana em que estou meio em teleférias, meio em teletrabalho, porque quando parei numa área de serviço para comprar os jornais do dia a senhora que me atendeu, com um indisfarçável sotaque brasileiro, perguntou-me se podia lá deixar os jornais depois de os ler. Não sendo uma loja a que vá frequentemente, esta interpelação surpreendeu-me e por isso quis saber se os jornais que eu devolveria eram para os ler. Para os ler? Perguntou-me incrédula. Nem pensar, são para aconchegar a cama dos meus cachorros.
2. O papel dos valores. No regresso da Liga Europa temos tido grandes jogos, mesmo com os estádios incompreensivelmente vazios. No final do renhidíssimo Inter de Milão-Bayer Leverkusen, há uma imagem rara e feliz que mostra dois jogadores, o Lukaku dos italianos e um jogador do clube alemão que não identifiquei, mas que para o caso também não faz falta. Mal o árbitro apitou para o final do jogo que apurou os italianos, estes dois jogadores ajoelharam-se no relvado e agradeceram ao seu Deus. Lukaku deve ter agradecido o seu golo decisivo e a vitória, imagina-se. Já o jogador do Bayer agradeceu o quê?
O valor do papel e o papel dos valores vai continuar a surpreender-nos neste nosso mundo em que a liberdade não seja surpresa e resistir ou dizer não se mantenha uma possibilidade.
*Empresário