Em apenas duas semanas, entre os dias 10 e 24 de outubro, o índice de transmissibilidade do vírus da covid-19 em Portugal passou de 0,65 para 1, confirmando a opinião de vários especialistas, segundo os quais deverá voltar a registar-se, com a aproximação do inverno, um novo aumento de casos e, consequentemente, do número de vítimas mortais, com especial incidência na Europa.
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Todavia, dois meses após o início da vacinação de reforço para as pessoas com mais de 80 anos, os números da DGS indicavam que apenas 63% daquele grupo etário havia tomado a quarta dose da vacina, o que parece revelar um certo relaxamento do processo vacinal e algum menosprezo pelo perigo que o vírus continua a representar.
Sendo fundamental garantir que os mais idosos e as pessoas sujeitas a comorbilidades terão a sua vacinação reforçada antes do inverno, importa, desde já, acautelar que as metas estipuladas e o calendário previsto estão a ser cumpridos, criando condições para que o próximo pico de circulação e transmissão do vírus não resulte numa nova e desnecessária vaga de mortalidade. Mas também é necessário combater com determinação a renovada onda de irresponsabilidade que, outra vez, se agita.
As instituições europeias têm estado a procurar apurar a existência de eventuais irregularidades nos preços praticados pelas farmacêuticas que desenvolveram vacinas para a covid. Este processo de fiscalização, normal em democracia, tem, todavia, sido aproveitado pelos negacionistas do costume, empenhados em confundir os incautos e gerar desconfiança relativamente à eficácia e à pertinência da inoculação. Mas convém separar claramente as águas entre o esclarecimento da eventual manipulação de preços e os inegáveis benefícios da vacinação.
A negação da evidência científica, que em Portugal tem rostos bem conhecidos, acarreta a essencial desvantagem de expor a riscos desnecessário todos aqueles que se deixam enganar pela mentira torpe e pela manipulação. A criação de dúvidas infundadas pode, aliás, fazer perigar a própria eficácia do processo de vacinação contra uma doença que continua a ser prevalente na Europa e em Portugal, apesar de ter desaparecido das manchetes e da abertura dos telejornais.
Reitor da Universidade do Porto