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A crónica que mais visualizações teve até hoje, entre todas as que escrevo há quase três anos, semanalmente, na “Folha de São Paulo”, superou a marca de 300 mil acessos, abordando um tema ao mesmo tempo surpreendente e insuspeito.
O assunto foi a licença de paternidade. No Brasil, os pais têm direito a apenas cinco dias de calendário de licença de paternidade quando os filhos nascem e esse facto inspirou-me a refletir sobre como essa realidade se compara à de Portugal, onde os pais têm direito a 15 dias úteis de licença.
Contudo, essa vantagem, que poderia ser vista como um privilégio do chamado primeiro mundo, traz consigo uma contrapartida. A abundância material, que deveria proporcionar um ambiente mais seguro e acolhedor para as crianças, algumas vezes é um contraponto negativo.
As crianças que crescem em lares onde o amor é condicionado ou onde são forçadas a lidar com as cargas emocionais dos pais tendem a internalizar esses padrões, perpetuando ciclos de toxicidade nas suas próprias relações no futuro.
O resultado é a construção de gerações tóxicas, onde o desequilíbrio emocional se torna a norma.
É fundamental que os pais encontrem maneiras saudáveis de lidar com as próprias frustrações, separando-as da relação com os filhos. Isso pode significar a busca de apoio profissional, estabelecer limites claros entre a vida pessoal e a parentalidade, ou simplesmente encontrar momentos de calma e reflexão antes de interagir com os filhos.
A criação de uma nova geração saudável, emocionalmente equilibrada e capaz de construir relações baseadas em respeito e amor, começa com a quebra desse ciclo de toxicidade.
O vínculo parental deve ser preservado como o espaço sagrado que é, onde os filhos possam crescer sentindo-se seguros, amados e valorizados por quem são, não pelas expectativas ou frustrações que os adultos carregam.