Pedir o ouro não ajuda quem mora cá
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Residente na Europa há mais de sete anos, a mulher foi confrontada publicamente com palavras insultuosas, que não podem ficar impunes. Portugal tem de mostrar-se diligente e, perante as evidências, considerar público o crime e fazer dele bandeira.
Os incidentes de xenofobia, como o ocorrido no Aeroporto do Porto, onde uma cidadã brasileira foi assaltada verbalmente por uma mulher portuguesa, são um sinal importante de que há muito trabalho por fazer no processo de acolhimento dos imigrantes brasileiros.
Não sendo um episódio isolado, sempre existem tensões em espaços onde culturas se cruzam, é importante reforçar que a esmagadora maioria dos tugas é simpática acolhedora, por isso, deixar passar em claro este abuso com potencial para contaminar a imagem coletiva do país luso não deve ser tolerado.
Mas é também imperativo que, em face dessas expressões de xenofobia, não apenas condenemos os atos, mas também nos voltemos para a cultura como alicerce de uma sociedade mais inclusiva.
A xenofobia é uma mancha na tela da nossa coletividade e a cultura o pincel que pode redefini-la. É essencial um apelo às autoridades luso-brasileiras para que a partilha cultural seja elevada a uma responsabilidade bilateral, transcendendo os habituais discursos de circunstância.
Também é importante que os homens públicos não alimentem polémicas. Nenhum político contribui para um futuro melhor entrando nessa jogada. Discursos inflamados podem deitar muito a perder e pedir o ouro de volta não ajuda os 600 mil brasileiros que moram em Portugal.
Assim como a parte não pode prejudicar o todo, o passado longínquo não deve comprometer o futuro imediato. Não é só xenofobia, é um problema de justiça.