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Centeno retirou tudo o que precisava do seu gabinete no Banco de Portugal. Hoje, dia em que será provavelmente anunciado o nome do novo Governador, já não estarão em frente aos seus olhos as fotos dos três filhos e de Margarida, mulher da sua vida que, em meados de 2022, partiu sem poder deixar morada. O país conhecerá um novo protagonista e despedir-se-á por breves instantes, assim o espero, de um homem marcante, sério e independente. É um enorme elogio. Um elogio e uma estranheza nos dias que correm. É que olhamos para Centeno e vemos um tipo credível, de referência, à parte.
Poderá dedicar-se aos filhos, à escrita e às aulas. Dar a volta ao Mundo. Poderá (espero que sim) tornar a apaixonar-se por alguém que lhe ofereça uma vida plena e a cores. Ou oferecer o melhor da vida que lhe resta a ajudar o país num tempo onde o otimismo parece ter comprado bilhete para as montanhas do Butão. Nesse caso, baralhará o jogo político e partidário. Mas como o fará? Tornando-se militante do PS ou criando um novo partido político? Na primeira hipótese, sei que existe um grupo de gente disponível para o levar ao colo até à liderança, mas o PS é hoje uma soma de equívocos e corre o risco sério de em dez anos deixar de contar para o totobola. No segundo caso, sei que há pessoas a tirar bilhete para serem parte de uma “revolução”. Que os dados sejam lançados na certeza de que será Centeno a decidir se o seu destino são as Caraíbas ou o ringue em que se transformou o país e o Mundo.