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Quantos somos e, em função disso, o que queremos? Somos cada vez mais velhos e, em princípio, desejamos ser cada vez mais novos. Não se procuram soluções milagrosas ou elixires da juventude. A questão é demográfica e precisa de ser colocada rapidamente no topo das prioridades deste Governo. E dos próximos. Portugal, segundo dados da Pordata revelados durante a semana, tem, juntamente com Itália, a população mais envelhecida da União Europeia. Há apenas 2,6 pessoas no ativo por cada idoso. Também por estes dias fomos confrontados com uma quebra acentuada dos nascimentos, menos 500 bebés em relação ao primeiro semestre de 2023. Um problema de consequências previsíveis a médio prazo, na sustentabilidade da Segurança Social e do próprio país. Os imigrantes, que agregam os ódios da extrema-direita, ainda vão alimentando a cadeia, mas já nem isso chega para compensar, até porque o racismo não cativa ninguém. Expulsa. A falta de mão de obra cria constrangimentos graves aos empresários. A situação tornar-se-á insustentável. Assusta. Caminhamos para uma espécie de sociedade distópica, na linha da imaginada por Margaret Atwood. Convém saber como atingimos este ponto crítico, para depois podermos evoluir em sentido oposto. É fácil dedilhar razões: habituámo-nos a um conforto que não queremos, legitimamente, perder; de repente, todos estamos a ganhar menos, sobretudo os mais jovens, que por isso constituem família mais tarde; a maioria dos que consegue não arrisca mais do que um filho, porque com o preço a que estão as casas - e outros bens essenciais - seria uma irresponsabilidade. A única via para inverter esta tendência será a aplicação de uma política forte de apoio à natalidade e posterior acompanhamento, com investimento prioritário, ao nível dos recursos empenhados na saúde ou nas infraestruturas, porque como quanto mais velhos menos saudáveis e menos produtivos, o resultado do investimento servirá apenas os turistas. Parece uma narrativa distópica, como era a pandemia, até acontecer. Mas a tragédia demográfica pode ser contrariada, se o Estado fizer a sua parte, porque, respeitando quem pensa diferente, desconheço alegria maior do que ter um filho, ou dois, ou mais.