São inversamente proporcionais a necessidade de investir em saúde mental e os investimentos feitos pelo Governo. Muito se anuncia e pouco se concretiza. O senso comum ensinou-nos a conhecer a estratégia "muita parra e pouca uva".
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Num contexto em que a crise ambiental é cenário de fundo, em que emergem medos associados ao que vai acontecer ao planeta; num contexto em que as decisões políticas na forma como nos relacionamos com os animais conduzem a zoonoses, que nos levam a crises sanitárias, a estados de emergência e a confinamentos sucessivos; num contexto de invasão de um país na Europa, a sensação de impotência e de frustração cresce, ao mesmo tempo que a incerteza sobre o presente e o futuro reina; num contexto onde o Tribunal da Relação do Porto continua a desresponsabilizar a violência doméstica, mesmo que tenha sido cometida ao longo de cinquenta anos; num contexto onde os canais de queixas de assédio sexual, discriminação, racismo, xenofobia são ferramentas essenciais para a não discriminação e a igualdade.
É por todos estes contextos e os outros não descritos aqui que precisamos da real concretização na promoção da saúde mental, mas também nas respostas especializadas na intervenção em alturas de crise: pandemia, guerra e emergência climática. Sabemos que quanto mais rápida for a intervenção em crise, menores são os riscos de sequelas emocionais e psicológicas futuras e melhores serão os indicadores de recuperação, pelo que é fundamental que as respostas de saúde psicológica estejam disponíveis junto das populações, e haja essencialmente um trabalho de prevenção e promoção da resiliência psicológica das comunidades, particularmente num futuro que se afigura instável e em constante mudança. Para aqueles que têm menos estratégias para lidar com as incertezas - há que agir já, sob pena de depois ser tarde demais.
Politicamente, cada vez mais temos de garantir intervenções planeadas, preparadas, em rede, capazes de dar alguma certeza à incerteza destes tempos.
Dirigente do PAN