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António Costa caiu a 7 de novembro por causa do famigerado parágrafo adicionado por Lucília Gago ao comunicado da Procuradoria-Geral da República sobre a Operação Influencer, mas eram já evidentes os sinais de desgaste do Governo maioritário e de disfunção em áreas nevrálgicas do país. Da educação (com a longa luta dos professores pela contagem integral do tempo de serviço) às forças de segurança (devido ao descontentamento dos profissionais da PSP e da GNR pela não atribuição do subsídio de risco dado à PJ), e, claro, na saúde, com serviços hospitalares a colapsar e urgências fechadas por falta de profissionais. Mais de 1,6 milhões de utentes sem médico de família eram a prova do falhanço de uma das mais sonantes promessas dos socialistas: garantir acesso de todos a cuidados de saúde primários.
O ciclo político mudou. A AD venceu tangencialmente as eleições de 10 de março e, em pouco mais de um mês de funções, tem somado exonerações e demissões. Ainda que expectável, a saída de Fernando Araújo da Direção Executiva do SNS e a consequente indefinição quanto ao futuro daquele organismo deixam no limbo a reforma que acabou com as cinco administrações regionais de saúde (ARS) e reorganizou centros de saúde e hospitais em 39 unidades locais de saúde (ULS). Quem está no terreno queixa-se de dificuldades operacionais, que vão desde a compra de medicamentos ao pagamento de incentivos das equipas da USF.
Uma das promessas eleitorais de Montenegro era apresentar um plano de urgência para a saúde em 60 dias após a tomada de posse (2 de junho). Para já, sabe-se apenas que o coordenador Eurico Castro Alves e equipa se reuniram pela primeira vez na semana passada.
A ministra Ana Paula Martins, opositora confessa da reforma em curso, tem passado entre os pingos da chuva e conseguiu nada dizer de substancial sobre a sua visão para a saúde. Mas desperdiçar um quadro com a competência técnica de Fernando Araújo não é um início promissor. Espera-se que o prometido plano apresente soluções para os problemas do setor e que resista à tentação de fazer política de terra queimada.