Desengane-se já quem se deixou enganar pelo título e está a pensar que vai ler uma crónica sobre futebol. Ou aqueles menos atentos ao desporto-rei e mais ligados a questões religiosas que possam pensar que esta prosa antecipa os temas pascais. Nada disso.
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O texto de hoje é integralmente dedicado a mais um homem vítima da covid, felizmente vítima só mortal em termos metafóricos. Pode ter sido crucificado, mas há quem ache que ele vai ressuscitar ao terceiro dia, conforme as escrituras. Será capaz?
Para os mais antigos como eu, esta estória faz lembrar aquele velhinho anúncio do Volkswagen Golf GTI de 1985, que nos apresentava o homem que tinha perdido tudo ao jogo. Esta é também a pequena estória de um homem que perdeu tudo (ou quase) - menos a esperança na ressurreição, ou não se chamasse ele Jesus. Um homem que estava calmamente sentado no paraíso brasileiro, ao lado dos que o tratavam como Deus Pai, e decidiu voltar à terra, à sua terra, disposto a comer o pão que o diabo amassou. E não têm faltado oportunidades.
Jesus voltou à Luz para poder jogar na Champions. Jogar, porque ganhar acho que, num milagre desses, santo homem algum acreditaria. Caiu às mãos de Abel, desta vez sem se ajoelhar.
Jesus voltou à Luz convencido de que teriam de passar 100 anos (bem mais que a nossa atual esperança de vida) antes que o Mundo pudesse ver outro treinador português a ganhar a Libertadores. Nem um ano depois, voltou a cair às mãos de Abel e deve estar a pedir de joelhos que o Palmeiras não se sagre campeão Mundial no Catar.
Jesus voltou à Luz como regressam todos os filhos pródigos. Imagino uma conversa com Vieira a dizer: "Meu filho, tu sempre estiveste comigo. Tudo o que é meu é teu. Demos-te como perdido, mas foste achado". Por isso Jesus foi recebido com o triplo das condições que tinham os que nunca tinham abandonado a Luz. Prometeu transformar o clube, que passaria a arrasar; garantiu que a equipa ficaria diferente, como a água do vinho. Mas o milagre não se deu...
Jesus voltou a pensar que fugia do vírus, a caminho da imunidade de um grupo onde nada o afetaria. Acabou com uma equipa campeã da covid em que nem ele escapou.
Jesus voltou à Luz a pensar que poderia contar com os apóstolos que tinha pedido mas, quando começou a caminhada, eram mais os Judas que os Cavanis. Vamos ver agora o que rezará o evangelho de São Lucas Veríssimo. Com apóstolos a menos, ainda veio a descobrir que os seus discípulos já não são o que eram. O mais antigo roubou-lhe a taça, supernecessária para as suas missas. O mais recente acaba de o pôr à prova perante todos os seus crentes (seis milhões?). Porque, agora a 9 pontos de um rival e a 5 de outro, Jesus vai mesmo precisar de fazer o maior milagre da sua vida.
*Empresário