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Tudo morrerá um dia, mas só se morre quando a força da vida já não é suficiente. É por isso que o Boavista continua vivo apesar de alguns acreditarem que a extrema unção já foi encomendada pela Igreja de Ramalde. O Boavista só partirá para um purgatório sem morada se os sócios e simpatizantes, se todos os portuenses, desistirem do que são. A cidade confunde-se com o Boavista, clube que nasceu de dois aristocratas ingleses entediados com o chá das cinco e as vernissages com os vassalos reais e suas concubinas. Nasceu na Monarquia e resistiu à I República, ao Estado Novo, ao 25 de Abril, aos patos-bravos, aos corruptos, aos sonhadores que detestavam pragmáticos e aos pragmáticos que detestavam sonhadores.
Como pode morrer o Boavista das camisolas aos quadradinhos? O Boavista de um dos meus primeiros ídolos, o Taí que era careca e varria o campo todo. O Boavista onde nasceram João Vieira Pinto, Nuno Gomes e Bruno Fernandes. O de Sanchez e Timofte – recordo a festa de campeões e as lágrimas de muitos dos que agora choram e dos que já abalaram. Tantos que ofereceram o melhor das suas vidas ao clube e tanta incompetência, tanta cobiça, tanta ganância. Tudo morrerá um dia, mas o Boavista precisa de sair da tumba onde o meteram, gente sem escrúpulos que tem de ser afastada para que, num terceiro dia qualquer, o milagre aconteça e o clube regresse mais forte. Os símbolos não morrem assim. Não sou boavisteiro, mas quero fazer-me sócio e estarei no primeiro jogo da próxima época… mesmo que seja com as Águias de Gaia ou com o Desportivo de Torrão nas catacumbas distritais.