A semana fechou com pessoas indignadas por terem de esperar um par de horas para fazer o teste à covid, enquanto nos Estados Unidos portugueses ficam retidos porque aguardam semanas para realizarem exame idêntico.
Corpo do artigo
O ato de alguém se queixar, até derivando para um protesto efetivo, é aceitável, desde que seja feito com civismo, mas também é bom não perdermos a noção da realidade. Que é muito dura para milhares de pessoas no nosso país. Enquanto nos queixamos dos semáforos colocados nas praias ou da roupa estendida à toa na corda do vizinho, há mais de 80 mil famílias em Portugal que só conseguem colocar comida na mesa graças ao apoio social das câmaras, como ontem dava nota o "Jornal de Notícias". E, isso sim, é um drama terrível, agravado agora pelo crescimento do desemprego devido à pandemia.
Portugal nunca foi um paraíso, embora os saudosistas nos tivessem tentado escolarizar com a lengalenga dos tempos heroicos em que fomos uma potência. Mas continuamos a ser solidários, cultivando um serviço de saúde decente e progredindo, depois do 25 de Abril, no que concerne aos apoios sociais. Todo o esforço compensará, se conseguirmos ser organizados e justos, porque não somos um Estado rico. A necessária tolerância zero em relação à corrupção parece começar a enraizar-se na sociedade, resta-nos esperar que a Justiça funcione; já no campo da organização da máquina pública, continuamos praticamente analógicos, embora nem isso permita compreender como é possível milhares de pessoas terem ficado, no mês passado, sem subsídio social de desemprego, um rendimento destinado a desempregados de longa duração e trabalhadores cujo contrato foi suspenso por não receberem o salário. Numa altura destas, trata-se de um escândalo inaceitável, até para alguém frio na leitura dos números, como a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho.
Editor-executivo