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A ofensiva sobre Gaza não terminou, nem sequer o infame bloqueio humanitário abrandou, menos ainda o extermínio do povo palestiniano. Mas o massacre passou para segundo plano, depois de Israel abrir nova frente de confronto, de consequências imprevisíveis, tendo como alvo as instalações nucleares do Irão. A resposta iraniana não tardou, embora a famosa Cúpula de Ferro tenha impedido danos ainda mais significativos. Netanyahu parece pouco incomodado com a escalada bélica no Médio Oriente, que por sinal dá imenso jeito ao amigo Donald Trump, por estes dias ocupado com o aniversário e um megadesfile militar “à la Putin”, enquanto os norte-americanos protestam na rua, do Massachusets à Califórnia. Segundo dados revelados pela presidente do Comité Internacional da Cruz Vermelha, Mirjana Spoljaric, na passada semana, há mais de uma centena de conflitos armados ativos no Mundo, cada um mais sangrento do que o outro. Por vezes, os menos mediáticos são os mais mortíferos, sobretudo para mulheres e crianças. A diplomacia, fundamental na construção da paz, parece ter perdido todo o crédito, porque os grandes estadistas do passado desapareceram no buraco negro que gerou as novas estrelas da política, plutocratas como Trump, sem ponta de génio ou integridade, movidos a populismo e alavancados pelo discurso de ódio. São tempos de desesperança. Os governos reforçam os orçamentos militares e preocupam-se mais em fechar fronteiras aos que fogem da guerra do que em conservar e desenvolver a globalização que esteve na génese do período de maior desenvolvimento económico da História. Até a palavra distopia deixou de fazer sentido, por se confundir com realidade.