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Daniela, engenheira venezuelana de 36 anos a residir em S. Mamede de Infesta (Matosinhos), estava noiva mas o ex-namorado, com quem terminara há dois anos, continuava a persegui-la. Vivia em pânico. Mudou de número de telefone e as passwords dos emails, porque ele conseguira aceder às suas contas, e queixou-se à PSP. Sete vezes. A última a 24 de maio do ano passado. O caso foi considerado de “baixo risco” e nada foi feito. Antes, já uma responsável da AIMA tinha notificado o DIAP do Porto do risco que Daniela corria.
João Pedro nasceu em Coimbra há 43 anos e gosta de matar as mulheres que o rejeitam. Em 2009 assassinou com 23 facadas a ex-namorada, em Castelo Branco. Condenado a 15 anos de prisão, saiu em liberdade condicional em dezembro de 2019 e rumou a Trás-os-Montes. Não demorou a envolver-se com uma mulher que, mais uma vez, maltratou. Ela fez queixa, sem consequências. Ele continuou a gozar sem restrições a sua liberdade condicional, mudou-se para Matosinhos e foi ali que conheceu Daniela. A relação durou apenas quatro meses. Ela acabou, ele não aceitou. A situação piorou quando ela ficou noiva. João Pedro jurou que ela não seria de mais ninguém. E cumpriu. Na tarde de 6 de junho - dia em que finalmente o MP resolveu atribuir um botão de pânico a Daniela -, João Pedro esperou que ela saísse do trabalho e acelerou com o carro. Atropelou-a, fez marcha atrás e voltou a passar com o carro por cima do corpo inerte no chão. Sete vezes.
A família de Daniela pede uma indemnização de 400 mil euros ao assassino. Mas a verdade é que João Pedro não é o único responsável por esta morte em contexto de violência doméstica. As várias queixas contra um cadastrado reincidente caíram em saco roto. A PSP desvalorizou completamente o perigo que Daniela corria ao ser perseguida por um assassino. E os serviços prisionais deixaram um condenado em liberdade condicional continuar tranquilamente a sua carreira criminosa até matar novamente. Tudo falhou. Todos falhamos a Daniela.