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O choque direto na economia portuguesa transforma a questão das novas taxas aduaneiras impostas pelos Estados Unidos num assunto que merece ser discutido na campanha eleitoral. É importante saber de que lado estão partidos e dirigentes partidários. Sobretudo aqueles que hossanaram Donald Trump e rejubilaram, em novembro passado, com a vitória do homem que desafia a Constituição, ao insinuar-se a um terceiro mandato. É tempo de perceber se André Ventura continua tão entusiasmado como estava em janeiro. Presente na tomada de posse em Washington, Ventura classificou a chegada de Trump ao poder como o início de um “ciclo de mudança”. Nem sempre acontece, mas não se enganou. De facto, as mudanças são visíveis. No que mais diretamente nos diz respeito, a Casa Branca fixou uma taxa de 20% às importações de produtos provenientes da União Europeia, o que se traduz num impacto de, pelo menos, 1% no PIB português. Os produtores de têxteis e vinhos, por exemplo, que empregam milhares de trabalhadores, vão sentir esta alteração de forma muito significativa. Ao lado de quem estará, agora, Ventura? É decisivo saber. E o que dizer de Hugo Soares, o líder parlamento do PSD, que numa entrevista ao Expresso, no verão de 2024, disse que teria muitas dúvidas se tivesse de votar nas eleições dos EUA. Será que agora escolheria Kamala? Acredito que sim. Já em relação ao líder da extrema-direita, não tenho tanta certeza, atendendo a que a decisão tresloucada de Trump é um retrocesso civilizacional, enquadrando-se no espectro de medidas defendidas pelo Chega no que concerne aos direitos das mulheres e dos imigrantes, só para citar dois exemplos.