Pela enésima vez, fomos confrontados com a má disposição de Eduardo Cabrita, zangado com as críticas da Oposição, sobretudo do CDS, partido destratado pelo ministro da Administração Interna, cujas declarações ultrapassam largamente a fronteira do que é admissível a alguém que se senta numa cadeira tão importante para a vida do país.
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Se Eduardo Cabrita se sentasse na cadeira do café, até podia ter piada; assim, não tem graça nenhuma. O percurso recente no Governo diz-nos que convive mal com a crítica e que António Costa convive bem com as atitudes do ministro, certamente porque lhe reconhece méritos que poucos conseguem detetar.
São tão extraordinários, que o primeiro-ministro não hesita em conservá-lo no Executivo depois do que se passou no extinto Serviço de Estrangeiros e Fronteiras ou com aquelas golas antifumo que, afinal, só serviam para adornar e fazer rolar as cabeças de um secretário de Estado e de um assessor.
Ao manter o ministro ao serviço, António Costa demonstra que não navega ao sabor do vento, nem governa em função dos estudos de popularidade, o que se traduz num grande mérito, mas a sensação de impunidade é contagiosa, pelo que não surpreende que outros membros do Governo entendam ter o direito de baixar a discussão às catacumbas de uma taberna da Idade Média.
Coisas há que se tem ou não, e vestir um casaco é insuficiente para ser elegante. O direito à crítica e à indignação é inalienável, mas João Galamba não devia ter considerado "estrume" e "coisa asquerosa" um programa da RTP. Fê-lo no Twitter, reconhecendo o erro, bem sei, porque logo eliminou o que escreveu.
A minha formação católica deu-me o privilégio da generosidade, pelo que, por mim, o secretário de Estado Adjunto e da Energia está livre de pecado. O ridículo daquele "delete" - tentativa infantil de ser mais rápido a apagar do que a rede a difundir - chega-me bem como ato de contrição.
Perante a sociedade em geral, não é bem assim. Resta saber se António Costa está mais inclinado a dar uma vassourada ou a varrer para debaixo do tapete.