Por incrível que pareça consegui descobrir um interessante ponto de contacto entre o evento que juntou o Papa Francisco com 200 artistas de todo o Mundo e o desfile da ministra Ana Abrunhosa como rainha das marchas de S. João em Ponte de Lima.
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Como também resultará evidente estamos a falar de dois acontecimentos e de duas pessoas que não têm praticamente nada em comum e só com muito esforço da minha parte é que podem ser comparáveis.
O único ponto que eu consigo assinalar e resolvi trazer para esta crónica é o sinal da procura de maior proximidade entre quem está no poder e quem é “comandado” por esses poderes. Uma vez mais saliento que os poderes do Papa e da ministra são radicalmente distintos na sua extensão e na sua natureza, mas não deixam de ser na mesma duas pessoas que detêm um poder que pode ou não ser exercido num registo de maior proximidade.
Numa época em que a Igreja católica atravessa uma das fases mais complicadas da sua vida em todo o Mundo, o facto de Francisco se ter empenhado em reunir com 200 artistas de todo o Mundo é digno de uma nota muito positiva. Acrescente-se que também lá estiveram alguns artistas portugueses a começar pelo meu amigo Pedro Abrunhosa, que nunca negou o seu agnosticismo, o que ainda confere ao evento um espírito de maior abertura e abrangência, que só pode ser motivo de elogio. Foi claramente um momento em que o Papa Francisco quis estar mais próximo de quem faz da arte um modo de vida, mas igualmente de quem não é propriamente um artista militantemente católico.
Por outro lado, a ministra Ana Abrunhosa desfilou sem qualquer cerimónia ou vaidade especial como rainha das marchas são-joaninas de Ponte de Lima. Além da boa noticia de ver um governante cumprir uma promessa que já tinha algum tempo, até estranho que esta presença não tenha sido incluída no roteiro do Governo + próximo, que tem vindo a decorrer em vários pontos do país nos últimos meses.
Claro que se percebe que o Governo tenha vindo a usar estas presenças no terreno para mostrar a obra feita ou pelo menos em bom andamento. Mas eu diria que tão ou mais importante do que ficarmos a saber como está a construção de um novo hospital ou o ponto de execução de uma nova ferrovia (ou de uma obra qualquer do PRR) é vermos uma ministra a participar ativamente num evento popular tradicional, onde para além da música e divertimentos inerentes, não lhe faltaram certamente muitas e boas oportunidades para ouvir o povo da região, os seus anseios, as suas críticas e as suas mais prementes necessidades.
*Empresário