As descobertas de António Damásio vieram refutar a total separação entre emoção e razão. Defende o neurocientista que, embora não sejam atos racionais, as emoções influenciam a nossa capacidade de decidir.
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Importa, porém, que as decisões não resultem sobretudo de impulsos primários, eminentemente subjetivos, que decorrem da nossa idiossincrasia. A razão deve ser preponderante no processo decisório, pois só assim se garante que as nossas ações ou juízos derivam do pensamento, obedecem a uma lógica e são por isso racionais.
Não me quero alongar em assuntos que não domino, mas creio que ainda faz sentido distinguir a emoção da razão. Os mecanismos racionais pesam certamente mais na tomada de decisões corretas do que os mecanismos emocionais, que estão muitas vezes associados a opções erradas ou inconsequentes. Donde, não me parece avisado deixar que as emoções se sobreponham à razão nessa difícil arte de tomar boas decisões que é a política.
Sei bem que as emoções são o sal da política e que esta tende, por via da hipermediatização da vida pública, a assumir uma crescente espetacularidade. Daí não viria grande mal ao Mundo, não fosse o Mundo, e como ele o nosso país, estar a enfrentar uma crise sanitária e as suas dramáticas consequências para o tecido económico e social.
Portugal, sublinhe-se, ainda não venceu a pandemia e tão cedo a sua economia não vai voltar aos níveis de 2019. De resto, houve necessidade de agravar a dívida pública para acudir aos setores mais afetados pela crise, perdeu-se o elã turístico, o desemprego ensombra a coesão social e as empresas estão mais descapitalizadas e menos competitivas.
Há, pois, fundadas razões para que o ambiente político em Portugal não seja tão emotivo e, pelo contrário, promova o diálogo interpartidário e a consensualização de posições. É certo que estamos em véspera de eleições, altura que se presta à ritualização do conflito. Mas tanta crispação e divisionismo entre partidos, quando ainda temos pela frente a crise das nossas vidas, parece-me pouco responsável e seguramente que não favorece as decisões acertadas que se impõem neste momento difícil do país.
Reitor da Universidade do Porto