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O entusiasmo socialista pela aprovação da proposta do partido para a revisão das taxas do IRS é compreensível. À semelhança do que aconteceu no mês passado, com a abolição de uma série de portagens, a aritmética parlamentar voltou a estragar as contas dos partidos do Governo, o que nem encerra grande surpresa, sobretudo porque Luís Montenegro mantém a palavra - o célebre “não é não” ao Chega tem sido, efetivamente, uma linha vermelha inultrapassável - e ao fazê-lo terá sempre em André Ventura alguém que colocará todas as pedras que puder no caminho.
Pedro Nuno Santos terá ganho a batalha na questão do IRS, nenhuma dúvida. Mas será que, no fim, estará a somar pontos para triunfar em algo que até pode transformar-se mais depressa do que se julga numa guerra eleitoral? Ainda é cedo para traçar uma sentença. Mas há sinais reveladores. Quando, em maio de 2022, Luís Montenegro foi eleito líder do PSD, no Congresso do Porto, vaticinou-se que as eleições europeias do próximo fim de semana seriam o seu primeiro grande teste. Alguns até o apontavam como um líder de transição, calendarizando-lhe a saída para o tempo que atravessamos.
Dois anos depois, Luís Montenegro é primeiro-ministro e, segundo as sondagens, o político que merece maior aprovação junto dos portugueses. Não acredito em coligações negativas, porque a distribuição dos mandatos é a que o povo delegou nas urnas, mas até a vitimização parece empurrar Luís Montenegro para outros voos, que poderão ter expressão num resultado mais confortável se a corda quebrar um dia destes, por deixar de estar disponível para governar com o projeto político do adversário.