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Luís Montenegro recebeu rapidamente a resposta à questão que colocou no final da intervenção de ontem ao país: a Oposição não confia no Governo. Mesmo não tendo sido claro em relação à apresentação de uma moção de confiança, mesmo contando com aquilo que resultou numa espécie de estender de mão do PCP - ao anunciar uma moção de censura condenada ao insucesso -, não há a mínima dúvida de que a Oposição reprova o Governo. No entanto, como os comunistas deram o primeiro passo, ainda na noite de ontem, o ministro de Estado e das Finanças, Miranda Sarmento, em declarações à RTP3, confirmou que o Executivo continuará em funções se a iniciativa parlamentar do PCP não merecer aprovação. Quando foi entrevistado, Miranda Sarmento já sabia que esse é o destino, porque, minutos antes, Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, garantiu que o seu partido não viabilizaria. Numa análise superficial, é possível concluir que o primeiro-ministro ganhou a noite, ao transformar o chumbo de uma moção de censura na aprovação de uma moção de confiança. O Governo voltará a sair incólume do Parlamento. Haverá quem aplauda, quem considere a noite de sábado a mãe de todas as vitórias, uma jogada política de mestre. O problema é que, apesar de o Governo ter recolhido outro sopro de vida, as suspeitas são legítimas, o desgaste é evidente e o clima de desconfiança adensa-se, tendo como pano de fundo um país que está muito longe de ser a terra santa de bem-aventuranças que Luís Montenegro propagandeou numa intervenção que ficará para a História. Da Saúde aos tribunais, da credibilidade dos políticos à violência doméstica, Portugal é tudo menos um oásis.