Numa adaptação livre do ditado popular "uma no cravo, outra na ferradura", o que o PCP andou a fazer nos últimos dias em relação à guerra da Ucrânia foi dar uma na foice e outra no martelo.
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Ninguém compreendeu que o PCP fosse no início uma das poucas, raríssimas, vozes a não condenar a atuação da Rússia e de Putin. Como também agora é muito difícil de compreender a sua nova posição, expressa por Jerónimo de Sousa no comício dos 101 anos do partido no Campo Pequeno, em que ficamos a saber que o que os comunistas portugueses pensam do conflito não é carne, nem é peixe. Dizer que são e sempre foram contra todas as guerras e terem descoberto agora que a Rússia do capitalista Putin é uma herdeira ilegítima da saudosa e sagrada União Soviética, tudo isto sem nunca sequer mencionar a palavra invasão, não lembra?ao careca. Numa época em que até os habituais compagnons de route, como o Cazaquistão, a Turquia e outros que tais, já condenaram a invasão da Ucrânia, ver o PCP a querer ficar de bem com Deus e com o Diabo... não lembra nem ao Diabo.
Como é evidente, a posição do PCP se em termos nacionais já vale o que vale, em termos internacionais não vale um caracol. De qualquer forma, para a política portuguesa, é mais um sinal de que o PCP se?está a aproximar a passos largos do ponto final, a que o CDS já chegou no outro lado do espetro partidário nacional. Tal como os quase 50 anos do CDS não impediram o estertor em que se encontra, também os 101 anos do PCP de nada lhe vão valer, se os seus dirigentes não perceberem que quando a sociedade muda, os partidos também têm que saber mudar. Quase 50 anos depois do 25 de Abril, o PCP continua convencido de que os "seus" trabalhadores são os mesmos, com as mesmas preocupações e os mesmos interesses e, pior do que tudo, continua a achar que esses trabalhadores e esses interesses se devem continuar a defender da mesmíssima forma.
No PCP, a rigidez tem sido confundida com coerência, e continuando a acumular decisões e posições como as que levaram à queda do anterior Governo e o expõe agora ao ridículo mundial no caso da guerra da Ucrânia, não se augura nada de bom. Se a isto somarmos que o que se conhece dos delfins João Oliveira e João Ferreira nada parece modificar na veterania de Jerónimo de Sousa, é mesmo caso para pensar que o PCP já morreu, mas ainda ninguém teve a coragem de lhe contar. Por cada ucraniano morto a defender a pátria, há milhões de portugueses com vergonha alheia do PCP que temos.
*Empresário