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Os Estados Unidos são conhecidos por ter uma democracia em que o equilíbrio e o escrutínio de poderes é fundamental. Elon Musk, o homem mais rico do Mundo, quer acabar com as bases da liberdade desde que Trump lhe deu a tarefa de cortar “gorduras” do Estado. Recentemente, o bilionário exigiu o acesso ao sistema de pagamentos do governo federal, o mecanismo através do qual o governo norte-americano paga aos cidadãos e empresas. E conseguiu-o com a intervenção do recém-nomeado secretário do Tesouro, Scott Bessent.
Este é um incidente grave, porque Musk está a agir em nome do Departamento de Eficiência Governamental que, apesar de assim ser chamado, não é um departamento do governo federal. Isso faz toda a diferença porque, para entrar nesse sistema, é necessário que o Senado o aprove, por ser um dos mais sensíveis do Estado. E, ainda mais grave, anunciou a sua intenção de usar esse poder para cortar custos. Só que um dos pilares da Constituição dos EUA é que o Congresso tem o poder exclusivo de orçamentar e autorizar a despesa pública.
A assunção por parte de Elon Musk de poder recusar-se a pagar despesas aprovadas pelo Congresso representa uma violação do Estado de direito. Isto sem mencionar o conflito de interesses entre Musk, o consultor, e Musk, o empresário. É que várias das suas empresas obtêm grande parte das suas receitas de contratos com o governo americano. Depende do boné que o bilionário estiver a usar.
Já está a acontecer: a USAID, a agência americana de ajuda ao desenvolvimento, está a ser desmantelada depois de vários funcionários da agência se terem recusado a permitir que os homens de Musk tivessem acesso aos seus documentos, alguns dos quais classificados como altamente confidenciais. O epílogo resultou em funcionários afastados, sendo que o desmantelamento da USAID terá um efeito devastador na luta global contra a fome e as doenças infecciosas.
Com quase um mês no cargo, Donald Trump parece estar a criar a sua própria versão daquilo que afirmava ser um Estado dentro do Estado.