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A poucas semanas das eleições europeias, a vergonha abate-se sobre nós, numa altura em que a extrema-direita continua a galgar terreno em temas tão delicados como a imigração. André Ventura envergonhou os portugueses quando disse em Madrid, na convenção do Vox, que é preciso “dizer à Europa” que não é possível continuar a permitir a “entrada massiva de imigrantes islâmicos e muçulmanos” e, uns dias antes, 15 países-membros, liderados pela Dinamarca, enviaram uma carta à Comissão Europeia no sentido de endurecer a política de migração.
De entre os 27 países-membros, haver 15 que colocam em causa valores fundamentais da União é meio caminho andado para uma desunião. Dinamarca, República Checa, Bulgária, Estónia, Grécia, Itália, Chipre, Letónia, Lituânia, Malta, Países Baixos, Áustria, Polónia, Roménia e Finlândia não perderam tempo a tentar acabar com o pacto restritivo alcançado em dezembro. Estas nações querem seguir a italiana Meloni, com a criação em países terceiros de centros para o envio de migrantes. Mas veja-se o que está a acontecer no Norte de África: uma investigação do “El País” revela que Marrocos, Mauritânia e Tunísia estão a utilizar os fundos comunitários para deter os migrantes e refugiados e abandoná-los no deserto à sua sorte. É isto que pretendem os 15 signatários, ao dizerem que as suas propostas defendem a “estabilidade e coesão social”, mas que, na verdade, cheira a xenofobia. Externalizar a responsabilidade da União para países terceiros nem sempre é a melhor solução, principalmente para aqueles onde o respeito pelos direitos humanos dos migrantes não é garantido.
É a partir dessa consciência que deve ser assumido o desafio que a Europa enfrenta em matéria de migrações, que geram desequilíbrios, sem dúvida, mas que não podem ser resolvidos com medidas que nos façam sentir vergonha de sermos europeus.