Anda toda a classe política mais a nata dos comentadores preocupados com a magna questão dos votos dos isolados por causa da covid, mas ninguém quer saber do voto dos que não votam.
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Claro que não me esqueço que no meio dos isolados podem estar muitos milhares daquele grupo de eleitores que normalmente querem e gostam de exercer o seu direito de voto. E muito bem! Mas também não posso fingir que não vejo que mesmo que o número previsional de isolados no dia das eleições, que é de 400 mil, só integrasse pessoas que querem mesmo votar, ainda assim estaremos a comparar 400 mil com quase 5 milhões.
Se estou, e não é de agora, muito mais preocupado com esses milhões de abstencionistas do que com os eleitores que possam vir a estar isolados, nem sequer é só por causa da gigantesca diferença numérica. É também porque para resolver o problema do voto dos isolados existem muitas soluções, como aliás o nosso JN ainda ontem explicava exaustivamente. Acrescente-se além disto que as próximas legislativas não são as primeiras eleições que temos desde que a covid nos invadiu, tal como, saindo de Portugal, são às dezenas os atos eleitorais que já se realizaram nestas novas circunstâncias.
O Governo, e muito bem, está a fazer o que era suposto. Em vez de tomar uma decisão unilateral, por muito competente que ela pudesse ser, está a provocar e a obrigar a um consenso entre todos os partidos candidatos. O que há de evitar qualquer protesto posterior, mesmo que a solução não seja boa.
Muito mais difícil de resolver é a questão da elevada abstenção que se tem vindo a registar em termos crescentes nos últimos anos e nada me sugere que no dia 30 possamos assistir a alguma inversão do fenómeno. Uma vez que a opção pelo voto obrigatório, que aqui já defendi, parece continuar a não suscitar qualquer tipo de entusiasmo quer no Governo, quer na Oposição, não vai ser fácil descobrir tão cedo o remédio ou remédios para este problema. Imaginando que o desinteresse de quase metade dos eleitores portugueses pelas nossas eleições legislativas tem a ver com a incapacidade de os partidos concorrentes os motivarem e tendo em conta que até ao dia de hoje ainda não vi nenhum partido preocupado com a questão, é quase garantido que vai ficar tudo na mesma.
Como ficou moda dizer em tempos de covid #vaificartudobem, também já percebemos que nas próximas legislativas, mesmo com uma abstenção a rondar os 50%, #vaificartudobem porque #vaificartudonamesma.
*Empresário