Não será surpresa nenhuma que aqui revele que pertenço desde sempre ao conjunto de eleitores portugueses que não duvidava um segundo que Marcelo Rebelo de Sousa iria anunciar mais cedo ou mais tarde a sua recandidatura à Presidência da República.
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Talvez tivesse mais dificuldades em acertar no local desse anúncio. Confesso que pensei em vários locais emblemáticos, curiosos ou até divertidos, mas nunca me passou pela cabeça que o recandidato professor fosse eleger uma pastelaria das redondezas do seu Palácio para anunciar a decisão. A sua intervenção não foi propriamente um "pastel", mas a forma docinha como elencou as suas motivações e razões ajudaram-me a perceber a escolha da pastelaria. Como muitos outros portugueses também terão imaginado, pensei que Marcelo escolheria um local afetado pela falta atual de afetos, como um lar de idosos. Ou uma instituição carecida do afeto de todos, como um hospital da linha da frente. Eventualmente, um local afetado há mais tempo, não pela atual pandemia de infetados, mas pela memória dos incêndios, como Pedrógão ou Monchique. Tendo em conta que os afetos foram a marca indelével deste seu mandato, sempre julguei que seria uma escolha óbvia um local que tivesse alguma referência dessa marca, mas ficamos a saber que o atual recandidato... é mais bolos, como diria Herman.
Seja como for, a grande surpresa, a substancial, desta recandidatura não foi esta treta da pastelaria, mas sim a solene declaração de que o candidato Marcelo está totalmente disponível para debater com todos os adversários que já se perfilaram. De Ana a André, de Marisa a João, passando pelo Tiago, o professor Marcelo não olha a nomes nem a famílias para selecionar os seus contendores. Não contava com esta disponibilidade tão depressa nem tão abrangente e nem sequer concordo com quem já veio dizer que ele só se dispôs assim porque sabe que já ganhou. Por acaso, penso um bocado até ao contrário, porque julgo que será em muitos destes debates que os portugueses vão ficar a perceber melhor as verdadeiras diferenças entre escolher a continuidade ou votar na mudança. Venham daí esses debates... e espero que também possam servir para ajudar a diminuir a taxa de abstenção, já que as sondagens continuam a apresentar números que nos deviam envergonhar.
*Empresário