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A guerra terminou há 50 anos, mas dezenas de americanos continuam no Vietname à procura de familiares desaparecidos ou de si próprios. Na cidade de Ho Chi Minh, para os penitentes a sempre eterna Saigão, não é preciso procurar muito para os encontrar nas noites de Nguyen Hue onde bares e ruas se enchem de jovens e turistas. Os americanos acomodam-se ao canto dos lugares, à sombra das esquinas, como se fossem personagens de um romance inacabado, de um livro impossível de terminar. Bebem sozinhos ou com traficantes de mulheres ou do jogo clandestino onde tudo se perde todos os dias. Há filhos de soldados cujo corpo nunca apareceu. Órfãos a quem a vida tratou mal, a quem a vida condenou ao lodo e que acreditam que a única redenção possível, é o milagre de encontrarem o pai que não regressou de Saigão, de Hanói ou de My Lai. Procuram-nos nos lugares proibidos, trocam informações, perdem-se nos becos das apostas clandestinas, das lutas de galos, do inferno que é a única coisa que ainda os faz ser gente. Também existem os antigos soldados, velhos carcomidos e enterrados em morte e merda, sem ninguém a quem prestar contas, sem mulher e filhos, sem América, sem mais nada que não as ruas onde são mortos vivos, fantasmas cujo único compromisso é beber para esquecer o que, na verdade, os mantém vivos. A guerra terminou há 50 anos no Vietname, mas muitos americanos lá estarão até ao dia em que ninguém reclamará o seu corpo. Apenas o Rio Mekong lhes será fiel... quando quiserem mergulhar e finalmente esquecer.