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É das boas notícias de fim de ano, época pródiga em balanços. Não contando com os anos de pandemia, 2023 foi o que registou o menor número de espetáculos de tauromaquia no país desde que há dados disponíveis (1989). Ainda assim, realizaram-se 166, principalmente no verão e no Alentejo, de acordo com a Inspeção-Geral das Atividades Culturais.
Uma análise comparativa aos dados dos últimos anos revela uma tendência de diminuição visível desde 2010. Depois da quebra durante os anos do confinamento e da recuperação em 2022, este ano fica marcado por afundamento no número de espetáculos de touros. Foram licenciados 182, mas apenas concretizados 166 devido, sobretudo, a razões de ordem meteorológica. Houve 124 corridas de touros, 17 festivais taurinos, 13 corridas mistas, oito novilhadas populares e quatro variedades taurinas. Muitas designações para a mesma prática: infligir dor a animais para gáudio das hostes, que assistem refasteladas a um espetáculo que banaliza a humilhação e a violência.
A diminuição do número de eventos de tauromaquia reflete uma maior consciencialização da sociedade para as questões do bem-estar animal e, mais do que isso, uma significativa mudança na escala de valores e de paradigma do que é cultura e entretenimento (traduzida também no aumento da taxa de IVA, que vários partidos querem reverter). É verdade que Portugal tem a tradição das touradas, mas nem a tradição é um valor supremo nem pode justificar tudo. Se assim fosse, não haveria progresso civilizacional e ainda nos regeríamos pelos dogmas da Idade Média.
A tourada é uma prática bárbara e anacrónica no Mundo atual. Se não movimentasse tantos interesses económicos, provavelmente já teria sido abolida de vez. Resta a esperança de que, à falta de coragem política para acabar com esse espetáculo degradante, haja cada vez menos portugueses a querer divertir-se com o sofrimento animal.