Aumento de perturbações leva à criação de Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência
A necessidade de dar uma "resposta atempada e eficaz" às crianças e aos adolescentes com patologias do foro mental levou o Centro Hospitalar de Leiria a criar o Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência, que entrou em funcionamento esta segunda-feira.
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A Unidade Funcional de Pedopsiquiatria que existia desde 1983, sob a direção do Serviço de Pediatria, dá, assim, lugar ao novo serviço, vocacionado para crianças e jovens até aos 18 anos.
O Centro Hospitalar de Leiria (CHL) explica, em comunicado, que houve um aumento considerável de pedidos de consulta, justificado por "quadros de perturbações ansiosas e depressivas com risco de suicídio, perturbações graves do comportamento que põem em risco o próprio e os outros, e quadros de perturbações emocionais e comportamentais em contexto de famílias disfuncionais". É ainda referida a manifestação de dificuldades escolares, associadas as perturbações emocionais ou comportamentais.
Constituído por três médicas pedopsiquiatras e uma psicóloga clínica, o novo serviço tem, por isso, um campo de intervenção que abrange "ações de promoção e prevenção no âmbito da saúde mental, estratégias de prevenção e intervenção precoce, para casos com os primeiros sinais de perturbação, bem como avaliação diagnóstica e tratamento, para aqueles que já apresentam uma perturbação definida".
Três hospitais
A funcionar em regime ambulatório, o Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência inclui consultas externas e apoio ao internamento pediátrico dos doentes no Hospital de Santo André, em Leiria, no Hospital Distrital de Pombal e no Hospital de Alcobaça Bernardino Lopes de Oliveira. Toda a intervenção é centrada na esfera individual e/ou familiar, em articulação com outras especialidades médicas e não médicas, nas áreas da saúde e educação. Colabora ainda com os Tribunais e com o Núcleo Hospitalar de Crianças e Jovens em Risco.
"Estamos ainda a desenvolver um projeto com a comunidade, que contempla a articulação com os Cuidados de Saúde Primários, com a equipa de Saúde Escolar da Unidade de Cuidados à Comunidade do Centro de Saúde Arnaldo Sampaio, com o Centro de Respostas Integradas de Leiria, e com os psicólogos dos vários agrupamentos escolares da região", revela Graça Milheiro, diretora do novo serviço. "Pretendemos ainda implementar um programa de promoção da saúde mental em crianças e jovens, que inclua ações formativas nesta área, dirigidas a várias entidades."
Não podemos deixar o país devastado emocionalmente
Graça Milheiro considera fundamental a criação deste serviço, em tempo de pandemia de covid-19. "Embora a prioridade, no atual momento, seja a sobrevivência e as pessoas estejam focadas no 'inimigo comum', quando a pandemia passar as pessoas vão focar-se naquilo que sentem e, nessa altura, os pedidos de consulta de psiquiatria vão aumentar", antevê. "Não podemos deixar o país cair numa crise económica, mas também não podemos deixar o país devastado emocionalmente", alerta. "Depois de controlada a pandemia, torna-se necessário também a reconstrução das lesões humanas, ao nível da família, dos amigos e das pessoas entre si."
"Esta é mais uma área de especialidade médica que disponibilizamos aos nossos utentes, considerando as necessidades específicas e crescentes da população mais jovem da nossa área de influência", explica Licínio de Carvalho, presidente do Conselho de Administração do CHL. "Continuamos a apostar no reforço das funções assistenciais diferenciadas, um eixo fulcral na nossa estratégia de crescimento", acrescenta.