A electricidade chegou, pela primeira vez, à branda do Murço, no Soajo, Arcos de Valdevez. Neste antigo refúgio de pastoreio, a muitos metros de altitura, têm segunda habitação 40 famílias da classe média alta, incluindo o director regional do Norte da EDP.
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___ "É tudo gente da alta. Os mais pequeninos somos nós", brinca Rosa Gomes, 50 anos, proprietária, por herança de seus pais, de uma das casas da branda do Murço, das poucas que ainda é utilizada apenas para a guarda de animais e agricultura. "É a branda do jet set. Isto é só malta de massas que tem comprado aqui casas", acrescenta o presidente da Junta de Soajo, Manuel Costa, que fez de cicerone ao Jornal de Notícias numa visita ao mais recente local iluminado da freguesia.
Já dá para dormir
Em vésperas de Ano Novo, Rosa Gomes, auxiliar num Centro Social, e o marido, Manuel Quintas, 51 anos, um distribuidor de pão recentemente desempregado, tiveram um motivo acrescido para festejar. Este ano poderão subir da vila do Soajo, onde moram, à branda do Murço a qualquer hora e até lá ficar a dormir. "Graças a Deus! Ainda não havia aqui ninguém já nós tínhamos pedido na Junta de Soajo para vir a luz. Fizemos um abaixo assinado há uns anos mas ficou anulado. Isto estava prometido há muitos anos, mas só agora é que veio ", lembra a mulher.
Rosa Gomes comenta a melhoria: "É muito bom. Antes não se podia estar aqui, nem guardar nada porque no Verão é muito calor e no Inverno um frio que não se pára. Até agora tínhamos um "campingás", que vai ser para arrumar, fica só para uma trovoada ou assim".
A branda do Murço é a primeira das muitas existentes no Soajo, onde a EDP instalou luz eléctrica. O investimento rondou os 51 mil euros e implicou a construção de 0,06 quilómetros de linha aérea de média tensão, um posto de transformação de 160 kVA e, ainda, 2,5 quilómetros de rede baixa tensão. A iluminação pública chegou à branda quatro dias antes do ano acabar e os proprietários das habitações podem a qualquer momento requisitar o fornecimento de electricidade para as suas habitações.
"Quem vinha para aqui?"
"Se não houvesse luz, isto não andava para a frente, estava parado. Quem é que vinha para aqui como eu com um gerador? Ninguém investia aqui o seu dinheiro se não houvesse luz", refere Mário Rebola, 62 anos, um bancário reformado, proprietário de uma pequena vivenda em pleno coração da branda, para a qual já requisitou à EDP o fornecimento de energia eléctrica. "A luz era o que faltava aqui, de resto só quero mais sossego", comenta.
Depois da "bem frequentada" branda do Murço, que há pouco tempo serviu de cenário à novela da TVI "Deixa que te Leve", a luz poderá, segundo o autarca de Soajo, chegar também em breve às brandas de Portelinha e Sernada, em Vilarinho das Quartas.
"Há mais dois projectos, que já fizemos chegar à Câmara Municipal de Arcos de Valdevez, para essas brandas que têm umas casas a ser recuperadas para Turismo de Habitação e segundas habitações", diz, concluindo: "É uma mais valia, porque a agricultura aqui acabou e as casas agora só servem para vender e recuperar para as pessoas virem para aqui sossegar". n