<p>José Machado faz a prova da farda que vai envergar na dança dos Bugios, na próxima quinta-feira, dia de S.João, em Sobrado., Valongo. Orgulhoso por participar nesta festa tradicional vinda de uma lenda secular, José será o rei, isto é, o velho da bugiada.</p>
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Entre tecidos e alfinetes – colocados cuidadosamente por António Pinto, um dos grandes organizadores do evento – diz: “Isto é só uma vez na vida, porque os outros também querem ser o rei”. A festa demora um ano a preparar e agora é hora dos últimos retoques.
E cada farda demora três dias a fazer, “daqueles compridos, com mais de 15 horas”, diz António Pinto, rodeado pelas fardas, mas também pelas caretas, castanholas, guizos. Ele e a mulher, Margarida Pinto, fazem, todos os anos, cerca de 15 novas fardas de bugios e três dos mourisqueiros.
As outras centenas estão nos armários à espera de poderem, finalmente, dar o ar da sua graça na dança de abertura. “Nenhum bugio ou mourisqueiro pode aparecer no largo antes da dança começar”, atalha o futuro velho da bugiada.
Nesse dia serão 700 bugios mais o seu velho da bugiada; e 38 mourisqueiros mais o seu reimoeiro, para cumprirem uma tradição medieval que vem de uma lenda que começa com uma princesa.
“A filha de um rei mouro que habitava por aqui adoeceu e este recorreu a sábios e curandeiros. Como não obteve qualquer resultado e a sua filha continuava a definhar, pediu à população cristã que pedisse pela sua filha junto da imagem de S. João. A princesa curou-se e fez-se uma procissão para adorar a imagem do S. João, só que os mouros reclamaram a posse do santo e os cristãos não gostaram”, conta António Pinto.
É uma dança surpreendente, que representa o Bem e o Mal, os cristãos e os mouros, sendo que aqui o Bem é ousado, aparentemente desorganizado e rude; e o Mal é estruturado, com roupas e aparência total mais alinhada.
Na prática, os bugios podem ser representados por toda a gente, os mourisqueiros só por rapazes. Depois da dança de entrada, seguem-se rituais medievais como a “cobrança dos direitos”, a “sementeira da Praça”, e a “dança do cego” atingindo-se o auge com a guerra entre os dois exércitos: bugios (cristãos) e mourisqueiros (mouros).
Tudo isto é preparado a preceito, muito antes do dia 24. Todos os anos, fazem-se novas fardas, arranjam-se antigas; fazem-se chapéus, barretinas e caretas, pintadas por António Pinto.
“A careta de um guia ou de um meio não é igual à careta de um velho da bugiada”, explicou. E se a dança é trabalhada durante alguns meses, “a festa inteira (que tem fogo de artifício e bandas musicais) demora o ano inteiro”, revela. E este ano, a festa começa na noite de 23 com os Deolinda.