A administração da Cerâmica de Valadares comprometeu-se em anunciar, até às 17 horas, uma data para regularizar os salários de Dezembro e de Janeiro, que vencem hoje. Galvão Lucas diz que estão a esforçar-se por manter a empresa, que tem uma boa carteira de encomendas, e nega intenção de levar pessoas a rescindir.
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"Até às 17 horas, ficamos de comunicar aos trabalhadores uma data previsível para o pagamento dos salários de Dezembro e de Janeiro, que vence agora", disse ao JN um dos administradores da Cerâmica de Valadares, Galvão Lucas, minutos após o fim de uma reunião com representantes dos sindicatos e dos trabalhadores, que desde manhã bloqueavam a entrada na empresa.
"A reunião correu bem. Explicamos aos trabalhadores quais são os problemas e e as dificuldades da empresa e agora aguardamos alguma compreensão da parte deles", disse Galvão Lucas, sem conseguir precisar, ainda, uma data para a regularização dos salários.
Os trabalhadores da Cerâmica de Valadares saíram da reunião a dizer que "já chega de acreditar nas promessas" e que apenas retomarão a actividade laboral depois de regularizada a situação salarial.
Em afirmações aos trabalhadores, Augusto Nunes, da Federação dos Sindicatos Cerâmicos, anunciou que a administração está a fazer "tudo o que é possível" para desbloquear verbas, tem uma boa carteira de clientes e encomendas, mas que não pode dar garantias da regularização da situação ainda esta terça-feira.
"Se até ao final do dia não for decidido um pagamento, faremos um plenário (às 17 horas) para ver o que vamos fazer", afirmou aos trabalhadores, dando a entender que poderão ali permanecer durante a noite.
O pagamento de Dezembro e Janeiro está dependente da concretização de uma encomenda, que ontem a administração esteve a negociar. "Estamos a ultimar uma venda com pagamento antecipado, sacrificando margens, que vai desbloquear margens significativas", disse Galvão Lucas. "Ter uma boa carteira de encomendas, como é o caso, não serve de nada, porque a banca está com dificuldades em financiar", disse, explicando a necessidade de operações como esta, uma espécie de pré-financiamento.
"Temos um ciclo de produção longo. Pagamos, matérias primas, gás, etc, a 30 dias e recebemos a 180", explicou Galvão Lucas. Um tipo de funcionamento que implica um grande capital circulante, próprio ou da banca, que financie a empresa entre os pagamentos e os recebimentos.
"A banca, neste momento, dada a difícil conjuntura nacional e internacional, não tem disponibilidade para financiar o ciclo de produção. Por isso, alargamos mercados, para compensar a quebra do mercado interno. Só com mais encomendas e mais vendas poderá entrar dinheiro", acrescentou.
Há "muito boa vontade" da banca, mas falta capital, disse Galvão Lucas. Questionado sobre a hipótese de um apoio governamental, como recentemente anunciou o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, para as PME, Galvão Lucas diz que "o secretário de Estado não podia ser mais esforçado, como aconteceu também com o Governo anterior", mas há "ainda muita burocracia" e os "mecanismos de apoio têm de ser afinados".
Galvão Lucas garante o "empenho da administração em manter a Valadares a trabalhar" e nega a intenção, levantada por alguns trabalhadores, de usar as dificuldades da empresa para levar as pessoas a rescindir. "É totalmente falso. Queremos manter a empresa. Sem falsa modéstia, poucos fariam o que esta administração já fez para tentar manter uma empresa", argumentou.
Os deputados Luís Menezes e Campos Ferreira, do PSD, passaram na fábrica para conversar com os trabalhadores. São cerca de 150, de um total de 400, os que se concentraram em frente à entrada da Valadares, esta terça-feira, às 8 da manhã.
"Se a empresa quer ultrapassar a situação, mexe-se como tem que se mexer. Enquanto assim não for, temos de nos manter aqui. Estaremos aqui até ao final da luta", assegurou Augusto Nunes, da Federação dos Sindicatos Cerâmicos.
* com Lusa